domingo, 23 de novembro de 2008

Uma noite de alma cheia


Noite de alma cheia a que ontem se viveu no Minho. Quando estendi o meu esqueleto sobre a cama era a minha alma que se regozijava pelos momentos que, juntamente com o meu cansado corpo, tinha experienciado horas antes.
No Fórum São Bento Menni, em Barcelos, os Mão Morta começaram a soprar os Ventos Animais que irão varrer Portugal nos próximos tempos. Maldoror, essa sinistra figura do maligno que os Mão Morta resgataram do confins do tempo, não foi suficiente para roubar ao colectivo bracarense a alma rock.
Rebuscando o baú, Adolfo Luxúria Canibal e seus pares presentearam o público, que praticamente lotou a sala onde decorre mais um Subscuta, com diversas pérolas do seu repertório, numa vertigem alucinante a que as suas criações sempre nos proporcionaram.
Num concerto tipo masoquista, o público permaneceu sentado, enquanto ouvia coisas como «E se depois...», «Gnoma», «Amesterdão», «Lisboa», ou "o agora incontornável", como disse Adolfo, «Budapeste». A meio levantei-me, pois é impossível assistir a um concerto de Mão Morta... sentado.
Com a frase "75 anos aos serviço da saúde mental» a dominar o palco, ouvia-se "Tu disseste 'eu também já tive medo. muito medo. recusava-me a abrir a janela, a transpôr o limiar da porta'" (in «Tu Disseste»). A loucura pairava no ar, mas niguém ali estava doido.
Adolfo Luxúria Canibal mostrou estar em grande forma, depois da extraordinária performance em «Maldoror». Dançando como só ele (dançando????), a voz rouca e cavernosa dos Mão Morta precisava apenas de uma plateia agitada à sua frente e não sentada, para que a actuação tivesse chegado ao excelente. Mesmo assim, foi fantástico.
A maior parte dos presentes já tinha saudades de ver a banda em registo rock'n'roll, e os Mão Morta não desiludiram. Talvez um tema apenas para encore e o pessoal teria saído ainda mais satisfeito.
Musicalmente exímios, os Mão Morta estiveram ao seu melhor. Pena o público estar sentado, o que coartou a interacção entre plateia e palco. «Penso que penso» exige mosh à frente do palco... e não houve. Mesmo assim foi uma delícia ver no arranque da digressão «Ventos Animais» uns Mão Morta ao seu melhor...
Findo o concerto em Barcelos, dirigi-me às Taipas (Guimarães), mais concretamente ao Bar N101. Aí, era a vez dos Peixe : Avião tomarem conta do palco e desfiarem os temas do seu recente álbum de estreia «40:02».
Foi uma bela maneira de acabar a noite, pois a prestação deste quinteto sedeado em Braga (quem diria) foi extraordinária. André Covas, Luís Fernandes, Pedro Oliveira, Ronaldo Fonseca e Zé Figueiredo deram um concerto seguro e profissional, perante um N101 cheio. 
A intensidade sonora da banda, em que a voz aguda e, por vezes, electronicamente trabalhada, enche a alma mais distraída, criando um ambiente fabuloso em torno do som debitado do palco.
Temas como «A espera e um arame», «Barro e lama em mão cheia», «Frio bafio», ou «Nortada» foram alguns dos que se ouviram em mais uma apresentação ao vivo de «40:02».


Alinhamento Mão Morta:

Ventos animais
Budapeste
As tetas da alienação
E se depois...
Arrastando o seu cadáver
Tu disseste
É um jogo
Gnoma
Em directo (para a televisão)
Penso que penso
Amesterdão
1º de Novembro
Bercelona
Quero morder-te as mãos
Vamos fugir
Lisboa
Cão da morte

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Cut Copy e Boys Noize... à Clubbing


Foi mais um Clubbing para cativar os estreantes e viciar ainda mais os habitués. As propostas eram demasiado tentadoras para que passassem incólumes. A adesão já se sabia iria ser arrebatadora, pois bilhetes há semanas que já não havia... para venda.
Cut Copy e Boys Noize, duas apostas que se revelaram vencedoras, apesar de algum público ter debandado pós a actuação da banda australiana, ficando muito outros com água na boca à porta da Sala 2, aquando da prestação do deejay alemão. Irremediáveis (e inevitáveis) contigências organizacionais e comerciais.
Mas de volta ao que interessa, a expectativa era grande entre o público para ver os Cut Copy, que em «In Ghost Colours» se esmeraram, tal como na noite anterior na discoteca Lux, em Lisboa. Apesar de algumas críticas de eventual cansaço, o trio, que esteve em palco acompanhado de um baixista, conseguiu alastrar a festa por toda a Sala 2, que o público lotava. A plateia sabia o que queria e os Cut Copy responderam à altura.
Intercalando temas do álbum de estreia com as novíssimas canções de «In Ghost Colours», Dan Withford e companhia levaram a plateia ao rubro, transformando o espaço numa autêntica pista de dança.
Foram muitos os momentos de perfeita sintonia entre a plateia, pejada de um público eufórico, e o palco, onde a banda se entregava ao concerto de peito aberto.
As guitarras entorpecem um pouco o ritmo do concerto, para quem olha para aquilo como uma espécie de «warm up» para uma longa noite de dança, mas a verdade é que a banda teve momentos de excelência.
«Unforgetable season» foi o expoente. Por momentos pareceu-me ouvir o compassado baixo de Peter Hook, a marcada bateria de Stephen Morris e a desfibrilhada guitarra de Bernard Sumner. Foi um momento incrível ao ouvir naquele palco, tocados por uns jovens australianos, alguns dos ingredientes que fizeram a música dos Joy Divison. Acreditem, foi um momento!
Foi em apoteose que os Cut Copy se despediram do público do Porto, tocando apenas um tema no encore, «Hearts on fire», para gáudio da plateia. Que queria mais, mas na CdM os horários são para cumprir.
Seguiu-se o alemão Boys Noize. De som forte e intenso, Alexander Ridha, de seu verdadeiro nome, lançou a bomba da dança na Sala 2, levando os fiéis seguidores, e estavam lá muitos, a uma frenética e incansável dança, polvilhada por momentos de introspecção sonora, catalizada pelo manipulação exímia que o alemão faz do som. Ouviu-se «Weiss, Weiss, Weiss», dos também germânicos Eistürzenda Neubauten - que este ano já passaram pelo Clubbing - e muitas outras coisas, entre o electro e o techno, de que Boys Noize faz os seus gigs. 


Alinhamento Cut Copy:

Nobody lost, Nobody found
Far away
Time stands still
So haunted
Unforgetable season
Strangers in the wind
That was just a dream
Saturdays
Feel the love
Out there on ice
Lights & Music
Future

Hearts on fire

(*)Fotos de François Oliveira

sábado, 15 de novembro de 2008

De Cabo Verde com muito ritmo

Foi uma espécie de estreia pessoal nestas vertentes musicais mais chegadas à chamada Música do Mundo. A verdade é que não me lembro de ter assistido a dois concertos seguidos de artistas que se movimentam naquela área. E não posso dizer que desgostei. A proposta era uma viagem até ao continente africano, mais concretamente ao arquipélago de Cabo Verde, guiados pelas vozes de Carmen Souza e Lura. Curiosamente duas cabo-verdianas… nascidas em Lisboa, após a Revolução de Abril.
Apesar de, definitivamente, não fazer o meu género, o certo é que foi pouco mais de duas horas de agradável entretenimento.
Carmen Souza abriu a noite com os seus funanás, mornas e demais sonoridades tão características de Cabo Verde, mas às quais empresta um toque urbano, que foi muito mais do meu agrado.
«Lapido na bô» serviu para homenagear o mestre Orlando Pantera, com Carmen Souza a dar início de uma empatia com a plateia que teria o seu clímax com Lura.
Os concertos foram transmitidos em directo pela RDP África e tiveram a presença do Cônsul de Cabo Verde na plateia. Apesar de poucos, sempre houve alguns destemidos que contrariaram as rígidas regras da Sala Guilhermina Suggia e de pé ensaiavam uns tímidos passos de dança. Mas foi com o público todo de pé e a dançar que Carmen Souza se despediu, com o funaná «Vaidade ê leviandade».
A sala estava meia cheia e recebeu de braços abertos Lura, um mulherão que se ginga, meneia e dança como só as africanas o sabem, levando a plateia ao delírio. Detentora de uma voz de respeito, Lura levou o público num périplo pelo som de África.
“Isto é uma viagem pelos ritmos de África, pelos ritmos da minha terra de origem”, referiu a determinada altura a cantora, acrescentando: “Sinto-me muito feliz porque canto na minha terra de nascimento (Portugal), a música da minha terra de origem (Cabo Verde)”.
A meio da actuação, Lura descalça-se e leva o público ao rubro, dançando o «Batuku», ritmo das mulheres cabo-verdianas e que a cantora dedicou a todas as mulheres presentes na sala.
Em «Nariná» a plateia surpreendeu Lura, quando esta lhe tentou ensinar a letra e o público, já a sabendo, cantou afinado e em uníssono. O concerto fechou com uma homenagem, mais uma, ao grupo Os Tubarões, com o tema «Mula mansa».
O encore trouxe mais uma morna e, claro, um funaná para que a coisa terminasse em apoteose. E assim foi…


Alinhamento Cármen Souza:

Verdade
Tud tem uma razão
Ind’feso
Codê
Afriká
Tristeza de vida
Levantá no bai
Lapido na bô
Vaidade ê leviandade

Alinhamento Lura:
Intro
Cartinha
Mari d’ascenson
Festa nha kumpadri
Vazulina
Ponciana
As água
Batuku
Narina
M’bem di fora
Mula mansa

Flor di nha sperança
Mundu ê nós

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Matthew Herbert Big Man


Extraordinário!
Matthew Herbert regressou à Casa da Música, desta feita acompanhado pela Big Band, e, mais uma vez, encantou. Acompanhado por 16 músicos – metais, piano, bateria e contrabaixo –, Matthew Herbert imprime um som épico às suas criações, que encontram na voz da portentosa (física e vocalmente) de Eska Mtungwazi a alma que a sonoridade exige e liberta.
A razão de mais esta visita do músico inglês foi a apresentação do seu novo álbum «There's Me and There's You».
Com o tema «Pontificate» foi como que se a felicidade invadisse o palco da Sala Suggia, trazida pela intensa e completa sonoridade da banda, os samplers de Matthew Herbert e a fabulosa capacidade e qualidade vocal de Mtungwazi.
O concerto versou apenas os novos temas, pelo que o público, face à novidade, esteve sempre um pouco na expectativa. Porém, o enorme agrado era ruidosamente demonstrado a cada final.
A maviosidade da beleza das melodias e o caos da orquestrada desconstrução musical enchiam o ambiente para deleite da plateia. Matthew Herbert captava e manipulava os sons em tempo real, provocando em algumas ocasiões o riso em Eska, quando esta tinha que cantar a par da sua voz reproduzida pelos samplers de Herbert.
Em «Battery», todos os músicos – à excepção do contrabaixista e do baterista e ainda do maestro Peter Wraight –, tinham uma revista (Flash!) na sua posse que foram rasgando paulatinamente. O ritmo era, em parte, marcado pelo rasgar sincopado das páginas, com Herbert a captar e a reproduzir os sons produzidos por entre a sonoridade dos diversos instrumentos. Se a felicidade e a alegria já haviam tomado conta do palco há muito, com «Battery» cehgou a diversão, com os músicos a transformarem o palco num campo de batalha, por entre confetis e pequeníssimas serpentinas feitas pelos próprios.
Depois, com «Breathe», chegou o momento de… magia, com Herbert a manipular a maquinaria com um capuz enfiado na cabeça, que não lhe permitia ver absolutamente nada.
Para além da música, o espectáculo acontecia. Matthew Herbert, que ostentava uma espécie de gravata feita de folhas de jornal (onde se podia ler «Millions of dolars burned», porque seria), manipula incessantemente a maquinaria que tem pela frente, ao mesmo tempo que dança e interage com os demais músicos.
Em muitos momentos, o som da banda serve apenas de cama às divagações «samplistas», que não simplistas, do músico britânico, que é exímio em utilizar sons das proveniências mais inesperadas. E fá-lo com uma mestria impressionante, no que é muito bem acompanhado pela (big) banda.

De braço no ar, todos os músicos parece quererem ser o homem que Eska diz estar à espera em «Nonsounds», para o concerto ser rematado com um tema «Just swiing», que ilustra bem o que se ouviu naquela hora de actuação, com Eska a cantar: “Life is just a famous swing”.
O público não arredou pé, e Matthew Herbert e acompanhantes regressaram para pôr toda a gente a dançar. Foi com o público todo de pé e a «swingar» que se ouviu o único tema antigo do concerto, o bem conhecido «Audience», em que um dos sons base é, precisamente, feito em uníssono pelo público e manipulado e reproduzido por Herbert. Foi em festa e em perfeita interacção entre palco e plateia que terminou o espectáculo, com o público a desejar mais, mas… tinha acabado.

Alinhamento:

Pontificate
Waiting
Vessness
Battery
Regina
Rich man's prayer
Breathe
Knowing
Nonsounds
One life
Just swing

Audience


Fotos de Luís Rocha Graça

domingo, 9 de novembro de 2008

Ladytron@CdM


Myra Aroyo
Helen Marnie


Devido a problemas técnico-tecnológicos - prosaicamente, bazarouquice minha - só agora as fotos do concerto dos Ladytron são postadas... A qualidade das fotos não é a melhor, mas também o fotógrafo não o é... mesmo!

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Ladytron sem encantar


O regresso dos Ladytron ao Porto apenas confirmou as suspeitas com que fiquei na sua passagem pelo festival Beat It, que em Setembro passou pelo Palácio de Cristal. A excelência da música do quarteto de Liverpool perde em palco.
Já em Setembro, na primeira vez que os vi e ouvi ao vivo, fiquei com a sensação de que o concerto tinha sido chocho, mas mantive algumas reservas na minha apreciação devido ao local e ao tipo de actuação (inserida num festival). Porém, as minhas suspeitas acabaram por se confirmar ontem à noite, na Casa da Música. A excelência (repito) e potência musical dos Ladytron perde ao vivo. Razões? Pois, essa é a parte difícil de explicar, mas a sensação com que fico é que a postura dos músicos em palco e a perda de alguns pormenores e o tratamento sonoros deixam a desejar, acabando por o concerto perder com tudo isso.
Mesmo assim, os demasiado estáticos Myra Aroyo, Helen Marnie, Reuben Wu e Daniel Hunt, que estiveram acompanhados de um baterista e de um baixista, empenharam-se e ofereceram algumas das suas pérolas musicais.
«Black cat», «Runaway» e «Ghosts» abriram da melhor forma o concerto, seguindo-se então um desfiar de temas dos quatro álbuns já editados, com especial incidência no último registo, «Velocifero».
Myra e Helen, quais viúvas em luto profundo, de vestes negras acetinadas fazendo lembrar épocas e britânicos puritanos, ainda ensaiaram uns passos de dança em alguns temas, mas sempre muito timidamente. Lá atrás, Reuben e Daniel pouco ou nada se movimentavam. É certo que estar a tocar teclados não dá para muita coisa, mas a atitude é muito para que o concerto ganhe um outra alma. No entanto, esta é a escolha dos Ladytron, como podia ser outra, mas com um som melhor a coisa poderia, então funcionar.
«Playgirl», a meio da actuação animou a plateia bastante despida. Não estava meia sala neste regresso dos britânicos a Portugal.
A curta, uma hora, actuação fechou com o extraordinário «Kletva», único tema tocado no brevíssimo regresso o palco.

Alinhamento:

Black cat
Runaway
Ghosts
High rise
True mathematics
Playgirl
Predict the day
Season
Dateline
Deep blue
Fibua
Seventeen

Kletva

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Uma vez mais e... obrigado


Pela terceira vez em 11 meses, Peter Murphy esteve entre nós para mais um concerto a Norte (que foram dois, diga-se), passando antes pelo Coliseu de Lisboa. Depois de, em Novembro de 2007, ter actuado no Pavilhão de Gaia e, em Julho deste ano, no festival Marés Vivas, também em Gaia, ontem foi a vez  do Coliseu do Porto receber este senhor da música.
O próprio Murphy justificou mais esta vinda em tão curto espaço de tempo com a necessidade de dizer "Obrigado" ao público nortenho, que sempre o acolhe como se da primeira vez se tratasse.
De facto, a relação entre o público do Norte de Portugal e o ex-vocalista dos Bauhaus é algo de quase inexplicável, tal a empatia. Com os Bauhaus ou a solo, Peter Murphy é um músico que os portugueses adoptaram como um dos seus principais cultos.
Não fosse a careca que já espreita, ninguém diria que Murphy já ultrapassou a barreira do meio século de vida, tal a sua prestação em palco e qualidade vocal que mantém intocável. Igual a si próprio, contracenando com os diversos focos de luz, ou simplesmente consigo mesmo, o autor de «Should The World Fail to Fall Apart» (1986) entrou em palco sozinho recebeu uma enorme ovação, que agradeceu com aplausos também, e intrepretou sem música «Cool Cool Breeze», mostrando que os anos que passaram pela sua voz lhe conferiram apenas mais maturidade.
Na plateia eram muitos poucos os Sub-30, com a grande maioria a demonstrar ser apreciadora de longa data. O público sabia ao que ia, ninguém (ou poucos) eram estreantes em concertos daquele que foi, em tempos, denominado Padrinho do Gótico (vá-se lá saber porquê, mas são opiniões!), pelo que desde o primeiro tema a química funcionou.
«Burning from the inside» foi a primeira do repertório dos Bauhaus a ouvir-se num Coliseu composto (apresentava pouco mais de meia casa), com os presentes a glosarem do momento dos dois lados do palco. 
Já em camisa, Peter Murphy prossegue a sua singular interpretação, transformando o concerto num agradável espectáculo. «Marlene Dietrich's favourite poem» dá à actuação o toque de intimismo q.b., seguindo-se «Time has got nothing to do with it», com Murphy à viola.
Com o concerto a ganhar ritmo novamente, o inglês tira a camisa e veste o casaco, levando o público (muito feminino) a fazer-se ouvir. «Black stone heart» é a única canção do álbum que pôs fim à carreira dos Bauhaus, «Go Away White» (2008), que interpreta, oferecendo, de seguida, o fantástico «Huvvola», para se retirar, pela primeira vez, com «Idle flow».
O público estava deleitado e exigia o regresso a palco dos músicos. Adivinhavam-se os «hits» pelo quais muito do público estava ali e ansiava. 
Um parêntesis: gostava aqui de reflectir sobre os fãs de Peter Murphy.
Aos indefectíveis desde os tempos de Bauhaus junta-se um público «geração RFM». Estes têm nos «hit singles» dos Anos 90 as suas grandes referências. Alguns têm essas canções como músicas das suas vidas, pelo que num concerto do inglês anseiam desesperadamente por eles e esperando sempre que o músico ofereça uma espécie de «best of... The Singles». Azarinho!...
Sem, no entanto, deixar de lhes fazer um pouco a vontade, Murphy esmerou-se nos dois «encores». Com domínio «bauhauiano», ouviu-se, primeiro «Strange kind of love», com a massa humana a manifestar-se ruidosamente, mas a que o músico, que estava à viola, colou «Bela Lugosi's dead». Uma mistura já apresentada no Marés Vivas e que fica extraordinária. Diga-se que o tema dos Bauhaus é maravilhoso... Depois, e nem precisa de descrição, «She's in parties», com a guitarra a parecer que vem dos confins do mundo para nos atormentar. Ah, o Padrinho do Gótico!...
No segundo regresso, Peter Murphy deu à «geração RFM» o que ela tanto queria, «Cuts you up», terminando o concerto de quase duas horas num resgito extremamente intimista, como é o de «All we ever wanted was everything».
Que dizer... pode voltar que nós cá estaremos, nunca é de mais quando o que se vê e ouve é bom. Murphy deixou o anúncio de que vem aí álbum novo, razão para nova visita já em 2009. Cá estaremos, Peter!

Alinhamento:

Cool Cool Breeze
The Line Between the Devil's Teeth (And That Which Cannot Be Repeat)
Disappearing
Burning from the inside
Gliding like the whale
Hurt (NIN)
Marlene Dietrich's favourite poem
Time has got nothing to do with it
I'll fall with your knife
(*)
Black stone heart
Huvvola
Idle flow

Strange kind of love/Bela Lugosi's dead
She’s in parties

Cuts you up
All we ever wanted was everything


(*) Tema que não identifiquei

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Uma diva chamada Róisín


Sem a energia electrizante que já demonstrou noutras passagens por palcos nacionais, Róisín Murphy estreou-se no Porto com um concerto intenso, mas um pouco mais reservado do que é habitual nela.
Mesmo assim, no que foi o regresso do Clubbing à Casa da Música, pós intervalo de Verão, a ex-vocalista dos Moloko foi igual a si própria, ou seja, exuberante, bela, glamourosa... brilhante.
As constantes mudanças de indumentária - é certo que se resumem a casacos, chapéus e óculos - emprestam um brilho ao concerto pouco visto, principalemnte pelo à-vontade com que Róisín o faz, mesmo ali ao lado ou mesmo em pleno palco.
Os casacos vão do mais simples ao mais espampanante, com Róisín Murphy a incorporar diversas personagens, à medida que desfia temas dos seus dois trabalhos a solo, «Ruby Blue» e «Overpowered».
Foi precisamente com o tema que dá nome ao segundo álbum que Róisín abriu o concerto. Com o público já rendido em «You know me», a ex-voz dos Moloko imprimiu ritmo à noite, para depois "mudar o palco", concentrando-se com os músicos no lado esquerdo do mesmo, para interpretar uma série de temas mais intimistas.
A maviosa voz de Róisin sobressai, enquanto na plateia se sente a pulsão de quem quer mais energia a sair do palco.
É com «Movie star remix» que a festa regressa à Sala 2 da CdM, enquanto pelas outras áreas a festa já contagiou as centenas de pessoas que por ali se encontravam.
Róisín Murphy é uma gata e sabe-o, meneando-se como só ela em palco, acompanhada pelo par de cantoras que formam o coro. Se o termo diva tem personificação, Róisín Murphy é das cantoras que o consegue. Mantendo a plateia em alta e conseguindo a espaços tranformar a plateia numa pista de dança, a cantora entrega-se totalmente em palco, protagonizando um belo espectáculo de se ver e ouvir.
Com «Dr. Zee» o concerto ganha novo fôlego, seguindo uma série de canções festivas, com o público a demonstrar toda a devoção à artista.
A fechar o Clubbing de Outubro, no Bar 1, Khan of Finland, que tinha feito a primeira parte (pouco entusiasmante, diga-se) na Sala 2, mostrou mais apetência para conseguir animar as hostes nos gira-discos. Aí, conseguiu dar bom seguimento ao que tinha acabado de acontecer lá em cima, por conta de Róisín Murphy.
Um obrigado especial ao Ricardo Meireles pela foto.

Alinhamento:
Overpowered
You know me
Checking up
Through time
Tell everybody
It's nothing
Movie star remix
Dear Miami
Day for night
Primitive
Dr. Zee
I can´t help myself
Pretty bridges
Let me know
Ruby blue
The ID
Slave to love (Roxy Music)
Ramalama

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

O poder de se ser sexy


Não me cansei, de facto, de ver e ouvir os (e não as) Cansei de Ser Sexy, ontem no Teatro Sá da Bandeira. O espectáculo foi bom e poderoso e não fosse a qualidade do som (muito agressivo, talvez) e teria sido ainda melhor.
Bem, mas o som deu logo problemas à segunda música do alinhamento, quando, pura e simplesmente, se calou. E logo quando íamos «Meeting Paris Hilton»!... Bem, mas Lovefoxx, a vibrante vocalista do grupo brasileiro, avisou logo que a banda ia tocar tudo de novo: "Todo o mundo tira a roupa, ninguém é de ninguém".
E, assim, encontramo-nos com a diva das páginas cor-de-rosa... duas vezes.
Brincadeiras à parte, os Cansei de Ser Sexy protagonizaram um concerto muito forte e enérgico. Sim, energia não faltou, com os músicos a debitarem som à força toda. Do outro lado, na plateia já se saltava desde os primeiros acordes de «Jager Yoga», tema que abre o novo álbum («Donkey») e abriu a actuação.
O pessoal sabia ao que ia e teve nos X-Wife, que fizeram a primeira parte, o devido aquecimento, pelo que a recepção aos CSS foi de braços abertos. Depois, Lovefoxx também não dá muitas hipóteses de ser de outra forma.
Recuperada, também, toda a energia eléctrica em palco - a iluminação foi recuperada ao terceiro tema -, Lovefoxx, Adriano Cintra (baixo), Luiza Sá (guitarra), Ana Rezende (guitarra e teclados), Carolina Parra (guitarra) e Jon Harper (bateria) apresentaram finalmente os seus novos temas aos portugueses.
Foi meio por meio o concerto, tendo-se ouvido oito temas do novo álbum e sete do disco de estreia homónimo.
Mas a verdade é que com uns ou com outros a energia no teatro Sá da Bandeira não teve mais quebras. Nem a energia eléctrica, nem a energia que os músicos transmitiam ao público e recebiam de uma plateia repleta, divertida e entusiasta.
O poder sonoro vindo do palco, cheio de balões brancos, era intenso, mas a voz e os meneios de Lovefoxx davam um toque glamouroso ao cenário... visual e musical.
«Alcohol» - "A nossa canção de amor", como referiu a vocalista - deu entrada a «Let's reagge all night», tema que fechou a actuação, num ponto em que o «encore» nem se questionava.
Aí, a coisa transbordou. «Air painter», do novíssimo «Donkey», deu o embalo, para de seguida o Teatro Sá da Bandeira se transformar numa enorme pista de dança... com bola de espelhos e tudo.
«Let's make love and listen to Death From Above» levou o público ao delírio, numa natural comunhão entre plateia e palco, que terminou com «Alala», outro tema do álbum de estreia.
Para trás tinha ficado um boa, mas demasiado curta e iniciada demasiado cedo, actuação dos portuenses X-Wife. Está bem que é a primeira parte, mas... soube a pouco.
João Vieira e seus pares mostraram estar em forma, ter os temas bem afinados para os palcos e, por isso, não é difícil conquistarem as assistências. Com a plateia a apresentar-se já composta, os X-Wife quiseram saber quem estava preparado para o apagão, que viria a acontecer depois no concerto dos CSS.
E ninguém se cortou às broncas, acompanhando a banda no seu rock intenso, desenhado pelos teclados de Rui Maia e marcado pelo baixo de Fernando Sousa e pela bateria de Nuno Oliveira.
Um concerto em que ofereceram um punhado de canções do novo «Are You Ready for the Blackout?», encerrado com o primeiro grande êxito da banda: «Rockin' Rio».
Os X-Wife provaram, na breve meia-hora em que estiveram em palco, que têm rock que chegue para levar o Sá da Bandeira ao rubro.

Alinhamento Cansei de Ser Sexy:

Jager Yoga
Meeting Paris Hilton
This Month, Day 10
Left Behind
Off the hook
Rate is dead (rage)
Move
Music is my hot hot sex
Give up
I fly
Alcohol
Let's reagge all night

Air painter
Let's make love and listen to Death From Above
Alala

Alinhamento X-Wife:

Fantasma
Summertime death
Eno
Ping-pong
Fireworks
On the radio
Rockin' Rio

*Servicinho completo...

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Nneka, a activista do amor


Deslumbrante é a palavra certa para descrever a actuação da nigeriana Nneka, ontem à noite, na Casa da Música, no Porto. Hoje é dia de subir ao palco da discoteca Lux, em Lisboa, mas na memória de todos os que ontem marcaram presença na Sala 2 do espaço da Invicta é um concerto intenso, em que a cantora não se coibiu de o tranformar numa espécie de acção de protesto.
A primeira imagem que se retém de Nneka é a de que, por debaixo daquela farta (e ponha-se farta nisso) cabeleira, está um rosto de uma rapariga refilona e até com algum mau-feitio. Porém, com o passar do tempo, das canções e das palavras (de ordem) o que fica é uma activista convicta, detentora de uma voz singular e fantástica, que canta o amor e as injustiças e que usa a criatividade em favor dos mais desfavorecidos. No caso concreto, a grande preocupação e luta de Nneka é em prol do povo Warri, que habita na região do delta do Níger e de onde ela é natural, vítima da exploração das grandes multinacionais petrolíferas e ainda da corrupção que grassa e desgraça o seu país natal, a Nigéria.
Na bagagem, Nneka trouxe «No Longer At Ease», o segundo álbum de originais, mas do disco de estreia, «Victims of Truth», também se ouviram um lote de belas canções.
Acompanhada por quatro excelentes músicos, em se destaca a secção rítmica - o baixo é extraordinário, sempre muito bem apoiado pela bateria -, a cantora radicada em Hamburgo doseou muito bem o concerto, não seguindo um alinhamento rígido, interpretando os temas à medida que considerava ser aquele o mais indicado para o momento.
E o primeiro grande momento surgiu logo com a segunda música. Em «Gipsy», Nneka mostrou a intensidade da sua voz, ou seja, o poder que com ela tem de captar a atenção. De seguida, e após dissertar poeticamente sobre o amor, ofereceu «The uncomfortable truth», que colou em «Confession». Depois, à viola, interpretou «Come with me».
O público estava rendido e recebia um prenda. Há um mês em digressão, Nneka e a banda compuseram um novo tema, de forte influência flamenca, mas que musicalmente sobressai a mistura de estilos, seguros apenas pela voz da nigeriana. «Toucher», ou «Toto», é o título da nova música, que aborda o tema da corrupção na Nigéria através da história de um homem comum, como explicou a cantora.
Um breve intervalo, com a banda a protagonizar, sem Nneka, um tema, para o concerto voltar em força, especialmente no protesto.

Nneka gosta de conversar com o público e de transmitir as suas preocupações com o que se passa no seu país natal. «Suffri» trouxe com ele o discurso mais político, com Nneka a acusar as grandes petrolíferas e os políticos nigerianos de sugarem o povo, em nada contribuindo para o seu desenvolvimento e, mais grave, sobrevivência.
«Beautiful», com a plateia a fazer coro, «Heartbeat» e «Níger Delta» completaram uma actuação que teve em «Lord of mercy» a despedida em jeito de oração, depois de mais de hora e meia de concerto, que terminaria com um regresso a palco para cantar «Focus».
Pode voltar que vamos gostar muito de a ver e ouvir novamente.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Encenação lamentável


Acabo de assistir a uma lamentável actuação protagonizada pelo senhor deputado Nuno Melo no «Corredor do Poder», da RTP1, onde jovens deputados, alguns não antigos na arte, expressam as suas partidárias opiniões.
E friso as palavras actuação e protagonizada, porque o senhor deputado do CDS-PP até disse que "não estava a falar de teatro, mas de direito". Disse-o, e releve-se de forma malcriada, dirigindo-se a José Soeiro, deputado do BE.
E esta lamentável cena porque, sabendo que a razão lhe foge, queria relevar o protesto do Presidente da República, no acto da promulgação, face à larga maioria que votou no Parlamento as alterações à legislação.
De forma malcriada, exigiu que o deputado do Bloco se calasse, pois o programa estava a terminar e queria colocar o seu ponto de vista. Porém, esquecendo-se (sim, esquecendo-se!...) que havia monopolizado grande parte do debate da noite.
Fora isso, e se percebe tanto mais de Direito do que outros dos presentes, o senhor deputado Nuno Melo deveria lembrar-se que o poder legislativo pertence à Assembleia da República e, portanto, é dali que saem as Leis.
E de que vive o Direito? De Leis. E não é preciso ser malcriado e deselegante!
Mas ainda bem que o deputado do CDS-PP não estava a falar de teatro. É que se com o direito é assim, imagine-se o que seria da nobre arte da representação.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Devoção inabalável

Sem mais demoras, porque mais de um mês sem nada «postar» é tempo de mais.
Por isso, aqui vai...

Já não é de agora que se sabe que a relação entre o público português e os dEUS é grande, íntima e (parece) inabalável. O pessoal gosta deles e eles parece, cada vez mais, gostarem do pessoal.
Depois de no domingo terem arrasado na Aula Magna, em Lisboa, ontem, na Invicta, Tom Barman e seus companheiros puxaram dos galões e voltaram a protagonizar uma extraordinária actuação.
Alternando temas mais intimistas com outros de completa libertação sonora, que levaram o público ao rubro, os belgas deram nova prova de adorar Portugal e os portugueses, mantendo-se em palco durante quase duas horas.
Perante um Teatro Sá da Bandeira lotado, os dEUS entraram a todo o gás, conquistando de imediato a plateia.
Como seria de esperar, a actuação foi bastante diferente da enérgica e alucinante performance de Paredes de Coura, mas a espaços ainda roçou a loucura que foi o concerto de Agosto último, com as guitarras a liderarem de forma acutilante os momentos mais pujantes da noite.
O espaço convidava e os dEUS optaram por diversos momentos bastante intimistas, tocando temas bem calmos, que mantiveram o público na expectativa por momentos mais explosivos, sem que, no entanto, não se deliciasse com o que se ouvia.
Executantes exímios, os dEUS têm em Tom Barman um líder que sabe cativar a plateia. E a prova que a relação entre os dEUS e os portugueses é excelente foi o momento em que o vocalista repreendeu o público pelo "mau hábito" que tem de, por tudo e por nada, acompanhar o que vem do palco com palmas. Bendito sejas, Tom Barman!
Apesar das «milhentas» vezes que a banda belga toca entre nós, o público não se cansa, nem tem razões para tal, pois os dEUS sabem como satisfazer quem gosta da música que fazem. Ontem no Sá da Bandeira isso ficou uma vez mais provado.
Alinhamento:
When she comes down
Stop-Start nature
Instant Street
Fell off the floor, man
Slow
Smokers reflect
Turnpike
The architect
Favourite game
Nothing really ends
Bad timing
Little arithmetics
If you don't get
Suds and Soda
-------
Magdalena
Oh your God
Roses
Morticia

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Banda-sonora de um despedimento

Resolvidos os problemas técnicos, que sempre tenho nestas coisas, aqui fica a verdadeira banda-sonora de um despedimento.
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domingo, 14 de setembro de 2008

Da velhice com humor


Depois de um fantástico início de tarde na praia, com um mar monumental, um Sol resplandecente e uma pequena brisa a refrescar, passei pela Residencial da Praça, onde pude assistir a um fabuloso momento de teatro... de marionetas.
No Festival Internacional de Marionetas do Porto - FIMP 2008 estava prestes a iniciar-se a apresentação da companhia belga Tof Théâtre, que fizeram subir ao palco não um, não dois, mas cinco autênticos velhos dos Marretas...
Les Bénévoles são um punhado de marionetas em tamanho real, em palco marionetistas na reforma e que apresentaram algumas peças dos seus antigos espectáculos.
Assim, o muito público que se deslocou, ou simplesmente passava e ficou pela Praça de D. João I deliciou-se com os espectáculo «Le best of... Les Bénévoles».
Extraordinário. Entrei no espírito, voltei a ser criança e deliciei-me com os momentos proporcionados por aqueles três homens e duas mulheres tão velhinhos que já lhes custava manterem-se totalmente na vertical, mas tão doces, tão cândidos, tão engraçados.
E o Careca? Um espectáculo em todos os seus gestos e atitudes.

Olha eu com ele!...

Diário de um descartado IX

Como disse em post anterior, não acredito que receba dinheiro algum dos algozes d'O Primeiro de Janeiro, Sédico, Fólio, Folha Cultural, ou seja, de Eduardo Costa, o único patrão que conheci nos 13 anos em que ali trabalhei.
Houve quem já tivesse sido bafejado pelos euros, mas eu e a maior parte dos despedidos ainda não vimos a cor do dinheiro. E, repito, não acredito que dali venha cêntimo para a minha conta, apesar de serem milhões os cêntimos que tenho a haver por direito.

Mas depois da catarse - que, como disse e bem o meu amigo Fil, serviu para para uma das pessoas presentes ficar um pouco mais em paz com ela própria - e à beira de dar dar o passo que falta, é tempo de pôr esta história toda para trás das costas e olhar lá bem para a frente. Deixar em definitivo de lamentar que se passou (acho que nem nunca o lamentei verdadeiramente), deixar de pensar que tudo isto foi um sonho mau que ao acordar passa e, acima de tudo, aproveitar o tempo de mudança.
Mudar é sempre assustador e até constrangedor, mas é uma bela lufada de ar fresco. Com as mudanças surgem coisas novas, algumas que nem imaginávamos que um dia nos cruzaríamos com elas. Resumindo, mudar é salutar.
Bem, estou seriamente a pensar em alterar a decoração da minha sala, onde passo mais tempo em casa quando não estou a dormir. Com os mesmos móveis, mas mudar. Periodicamente gosto de o fazer e é fantástico. E agora, mais do que nunca, vai saber-me bem.
Neste momento, e passada a «silly season», mais «silly» do que nunca, sinto-me em plena metamorfose. Não, não se assustem, não fui picado por nenhum insecto, nem mordido por nenhum bicho, mas sinto uma vontade enorme de mudar.
Quem mais tem sofrido é este meu corpinho elegante, que ao bater das 12 badaladas me exige uma cama. E se eu não lha der, dorme onde estiver. Descobri as manhãs, o que apenas pontualmente encontrava nos últimos anos, e tenho novas vivências profissionais.
Para já, a única coisa que de facto me inquieta é a falta de redacção. Aquelas quatro paredes de convívio... profissional. O burburinho das notícias. Passar de uma redacção de 32 jornalistas para outra de apenas dois é uma diferença grande. Sim, são 30 cabeças a menos a contribuir para a discussão.
E sobre uma coisa não há discussão, tudo deve ser discutido.

Sinto-me "como uma bola nas mãos de uma criança...".

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Diário de um descartado VIII

Depois de tantas mentiras e tantas aldrabices - já se viu ser a única forma que aquela gente sabe estar na vida - e depois de tantos (demasiados) dias sem ver a cor do dinheiro que nos é devido, legal e moralmente, foi hoje dito aos jornalistas e outros funcionários despedidos d'O Primeiro de Janeiro que tiveram que se deslocar a Santa Catarina onde funciona (como sempre funcionou) a Administração do matutino, que, mais tardar, até ao final da segunda semana de Setembro, as remunerações em falta seriam pagas.
Mais uma mentira, mais uma aldrabice.
Esta é a minha convicção, pois não tenho esperança nenhuma que dali me seja pago um cêntimo do que me é devido, que são vários milhares de euros. Caso contrário, os euros relativos à parte em falta de Junho e ao salário completo de Julho, tal como nos foi garantido pela Administração por interposta pessoa. Ou seja, pela directora Nassalete Miranda quando no dia 31 de Julho nos comunicou que faríamos a última edição daquele Janeiro, pois havia esperanças de encontrar investidores que permitissem relançar o mais antigo jornal diário do País no arranque do mês que corre. Regressaria às bancas dois dias depois.
Vistas bem as coisas, mais mentiras, mais aldrabices e, novamente, com nome próprio, que me escuso de referir. Enoja-me, simplesmente!
Mas na soma dos calotes destes senhores que altos responsáveis do Estado apelidam de "empresários modelo" há que contar ainda com os subsídios de férias, as próprias férias - no meu caso particular, são a totalidade, pois nem um dia cheguei a gozar, mas muitos camaradas de redacção ficaram ainda com bastantes dias por gozar -, os duodécimos do subsídio de Natal e, the last but not the least, as indemnizações.
Ora, se esta fosse gente que está na vida de boa-fé, se fosse uma pessoa de bem e, já para não falar de outras questões, tivesse um pingo de ética (tão necessária que é para que com orgulho se exiba uma Carteira Profissional de Jornalista) tinha feito o que devia, ou seja, pagava o que tinha de pagar sem subterfúgios e sem colocar as pessoas em situações difíceis e algumas delas bem complicadas do ponto de vista da sobrevivência.
Enquanto isso, quais intocáveis, pavoneiam-se por campos de futebol e, quiçá, rinques de futsal.
Por tudo isto, e depois de 14 anos na empresa, assistindo a um vasto rol de ilegalidades e à completa incompetência administrativa - quando lhes pedi uma cópia do meu contrato de trabalho responderam-me: "Não sabemos do seu contrato, mas não se preocupe" -, não me peçam para acreditar em quem nos últimos oito anos me disse (e aos outros) que não havia dinheiro para aumentar salários e sempre soube pedir mais empenho, mais trabalho, mais esforço. Enquanto isso, a colecção de carros topo de gama cresceu na garagem e uma qualquer marina aporta o iate...
Por isso, acham mesmo que mais esta garantia serve de alguma coisa a alguém.
Vergonha, muita vergonha na tromba é o que deveriam ter os responsáveis pelo despedimento e todos os coniventes (directa e/ou indirectamente) com tal acto.

Uma vez mais, vou citar os Linda Martini. E faço-o, não só porque o verso é belíssimo, mas porque com a alteração introduzida me sinto com mais força para avançar e esquecer que um dia (e foram 14 anos!!!!) trabalhei para aqueles algozes.
Mais a mais, no passado sábado assisti a um extraordinário concerto, nas Noites Ritual, da banda que assina «Olhos de Mongol» e «Marsupial». Voltem depressa ao Norte.



"O chão que pisas JÁ NÃO sou eu"
(«Amor-Combate»)
Desculpem a repetição, mas é mais forte do que eu.

Espero em breve fechar em definitivo este Diário, pois é dar importância a mais a quem não a merece.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Diário de um descartado VII

E ao 28.º dia a carta chegou.
Só o ultimato produziu efeito. Mas, como a incompetência grassa, nem os formulários para o desemprego estão devidamente preenchidos.
Uma tristeza. Nem nome completo, nem mais dados nenhuns.

Mas pelo menos tenho o documento que precisava para continuar com a minha vida.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Diário de um descartado VI

E ao 26.º dia a carta de despedimento não chegou.
Já não há palavras. Já nem vontade tenho de lhes chamar incompetentes. Uma vez mais tive que procurar pela carta, pois deles nem notícia nem recado...
De resto, e após contacto telefónico, soube que esperavam que a fosse buscar.
Enfim...
Apenas lhes disse que ou a carta está na minha caixa de correio até quinta-feira, ou quem os descarta sou eu e não o contrário.
Não estou para lhes aturar a incompetência por mais tempo.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Diário de um descartado V

E ao 19.º dia a carta de despedimento não chegou.
Depois de na semana passada a secretária da Administração me ter dito para reclamar junto da ex-directora d'O Primeiro de Janeiro e de, uma vez mais, ter actualizado a minha morada, a incompetência continua e cresce, tal como o vergonhoso desrespeito por alguém que durante 13 anos deu tudo e até mais do que devia (inclusive dinheiro) a uma empresa que, à imagem de quem a comanda, não mostra um pingo de dignidade.
Sempre nos pediram dignidade. E com dignidade sempre respondemos. Agora não nos peçam que nos estendamos no chão para sermos espezinhados.
Como referi num post anterior: "O chão que pisas JÁ NÃO sou eu".
Em prol da minha sanidade mental, porque o desgaste das últimas semanas tem sido arrasador, vou esquecer este assunto por uma semana, vou mandar-me por este Portugal abaixo e retemperar forças e encontrar um pouco de paz de espírito, para, mais do que tudo, regressar em força e encontrar meios de subsistência no jornalismo e reclamar os meus (nossos) direitos.
Estas são duas coisas que, para já, não abdico: Exijo que os meus direitos sejam respeitados e não abdico de ser jornalista.
Ser jornalista não é ter carteira porque se é dono de jornais, não é escrever umas crónicas que nem ao diabo lembram, nem tão pouco desconhecer o que é a ética e a deontologia, tanto na profissão como na vida.
NÃO, ser jornalista é muito mais do que isso. Mais do que gostar do que se faz, é amar a informação, é amar ser um elemento privilegiado na transmissão da informação e do saber, é amar o acto de levar de forma isenta o conhecimento a toda a gente, independentemente do credo, raça ou outra qualquer condição. É amar tudo isto e muito mais e um jornalista sabe o que é... Mas, acima de tudo, é ser Jornalista com jota em caixa alta, ou seja ser Homem com H grande ou mulher com M grande.

sábado, 16 de agosto de 2008

Diário de um descartado IV

Pensava que este fim-de-semana prolongado, em que nada posso fazer pela minha situação de desempregado, iria ter paz de espírito para fruir um pouco do aconchego familiar, o que já habitualmente acontece de forma espaçada. Enganei-me!...
E se nada posso fazer, nada me apetece fazer também. É estranha a sensação de apenas querer fazer... nada.
Mas, como dizia, se nada posso fazer, é muito difícil não pensar em toda esta embrulhada criada por um grupo de algozes. E a sensação de impotência é atroz.
Sem carta e sem qualquer papelada necessária nestas situações tratada, apreendo agora um outro significado da expressão silly season.
Ontem revi alguns momentos que vivi em Paredes de Coura - bendito youtube - e vi que tudo isto é muito mais do que uma simples casca. Há sempre o carnudo e sumarento fruto e, em alguns casos, ainda há o caroço.

Sinto-me num daqueles dias "de alma vaga"...

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Mundo Cão... este em que vivemos

Diário de um descartado III

E ao 14.º dia a carta de despedimento não chegou.
Isto é, a pouca vergonha, a incompetência, a irresponsabilidade, a falta de sensibilidade para com a condição do outro continuam.

Este post bem podia intitular-se «Diário de um desencartado».

Não recebida a dita, dirigi-me, uma vez mais, à sede da Administração, na Rua de Santa Catarina, no Porto - onde sempre fui tratar do que tinha que tratar com a empresa e não às moradas fantasmas de Gondomar que aquela exibe -, e, uma vez mais, não consegui falar cara a cara com a secretária da Administração, a pessoa que tem feito, mais ou menos, a ponte entre os despedidos e a empresa, porque também nunca sabe nada para nos dizer.

Mas por telefone, cumpri o meu objectivo, que era tão simplesmente dizer-lhes que INCOMPETÊNCIA TEM LIMITE. E quando está em causa a sobrevivência de uma pessoa esse limite deveria ser mais apertado.

Corrigida a minha morada já na quarta-feira - já o tinha sido antes, ainda eu estava na redacção de O Norte Desportivo, agora de o Janeiro - hoje já devia ter a carta de despedimento na mão. Mas não. A incompetência grassa, cresce e ninguém faz nada. A ver vamos...

Agora, segue-se um fim-de-semana prolongado e a minha entrada no Centro de Emprego é retarda, pelo menos, mais três dias, que em termos práticos para subsídios é mais um mês.

Incomodado quem me colocou, como aos demais 33 camaradas de trabalho, nesta situação? Não creio, pois quem tem que se preocupar com a prestação da casa, alimentação, contas para pagar e tudo o mais sou eu e só eu, até porque moro sozinho. Mas o que diz isto a quem já está ou se prepara para ir de férias, quiçá com o dinheiro que me está a dever e aos outros 33?
Caso não consiga pagar as prestações do apartamento, deverei mudar-me para a sede/residência (inabitada) da gerência da Folha Cultural, na Rua Fernandes Tomás? Diga-se que o gerente desta empresa, mais um fio dessa enorme teia, é a mesma pessoa que preside à União Desportiva Oliveirense e que sempre tive como patrão tanto n'O Norte Desportivo, como n'O Primeiro de Janeiro: Eduardo Oliveira Costa.



"CADA VEZ Destilo MAIS ódio"...


P.S. A falta que o Bogas me faz!...

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Diário de um descartado II

E ao 13.º dia a carta de despedimento ainda não chegou.
Demonstrando não ter respeito nenhum por quem durante 13 anos trabalhou (muitas vezes a dobrar - ainda em O Norte Desportivo colaborava assidua e graciosamente para a Cultura de O Primeiro de Janeiro - e pagar as próprias deslocações), a empresa detentora de O Primeiro de Janeiro, seja ela a Sedico, a Fólio, ou outra qualquer, pois é de difícil entendimento, retarda, por pura incompetência, que eu possa dar entrada com a papelada para receber o subsídio de desemprego, que à conta das trafulhices da mesma será mísero.
Convém recordar, e nunca é de mais dizê-lo, que isto acontece quando estou há mês e meio sem receber ordenado e sem ter recebido subsídio de férias, das quais nem um dia gozei.
Gozar parece estar a (des)dita empresa, fruto da irresponsabilidade e incompetência de quem ainda lá trabalha.
Parece que as únicas pessoas competentes são as 34 despedidas no último dia 31 de Julho.

Neste momento e parafraseando os Mão Morta: "Destilo ódio"...

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Diário de um descartado I


Passam hoje 12 dias desde que fui verbalmente despedido de O Primeiro de Janeiro, tal como os restantes 31 camaradas de redacção e ainda alguns administrativos. Curiosamente, sou dos poucos, senão o único, dos descartados - perdeu-se o contacto com alguns camaradas (espero que não se ofendam) perdidos num incompreensível (ou talvez não) silêncio - que ainda não fui efectivamente despedido, pois nem sinal da carta de despedimento e respectivo documento para entregar no Centro de Emprego.

Razão? Uma vez mais, perfeitamente surrealista.

Depois de descobrir que a morada da sede da Sedico, até ao dia do despedimento (31 de Julho), é um stand de automóveis usados que está fechado há cerca de dois anos e onde a mesma nunca funcionou, sou confrontado por uma secretária da Administração que a minha carta tinha sido enviada para a morada da casa onde vivi há 13 anos (já vivi em outras duas moradas depois disso)... Isto apesar de em 2007 a ficha de funcionário ter sido actualizada. Será que o foi realmente?

Após dirigir-me à Rua de Santa Catarina, onde efectivamente sempre funcionou a Administração da empresa para a qual na realidade sempre trabalhei (Fólio), constatei que 12 dias depois a empresa ainda não tinha dado pela não entrega da carta.

Porquê? Porque na Rua do Taralhão, onde a partir do dia 1 de Agosto passou a ser a morada da (des)dita Sedico, ninguém vai desde segunda-feira, amontoando-se os recibos das cartas registadas já entregues... e quiçá das devolvidas, como a minha.

Resumindo, de macacada em macacada, de desorganização em falta de competência estou há 12 dias para meter os papéis para o subsídio de desemprego, com salários em atraso e sem ter conseguido gozar um único dia de férias.

Em contrapartida, estou seguro que há por aí um qualquer empresário, dito de sucesso pelo Governo, que já terá as malas prontas para rumar a um qualquer Porto Seguro, como é habitual por esta altura do ano.

Aos melómanos, a quem este blogue é especialmente dedicado, as minhas desculpas, mas "Há dias assim" (Rádio Macau)... E alterando ligeiramente o refrão do fabuloso «Amor-Combate», dos Linda Martini, digo apenas: "O chão que pisas JÁ NÃO sou eu".

P.S. A falta que o Bogas (na foto) me faz para pôr uns quantos na ordem!...

Debute de um blogger


Este é o primeiro post de um recém-chegado à blogosfera. De Espada em riste e sempre afiada, este é um blog que terá como principal tema a MÚSICA.