terça-feira, 4 de novembro de 2008

Uma vez mais e... obrigado


Pela terceira vez em 11 meses, Peter Murphy esteve entre nós para mais um concerto a Norte (que foram dois, diga-se), passando antes pelo Coliseu de Lisboa. Depois de, em Novembro de 2007, ter actuado no Pavilhão de Gaia e, em Julho deste ano, no festival Marés Vivas, também em Gaia, ontem foi a vez  do Coliseu do Porto receber este senhor da música.
O próprio Murphy justificou mais esta vinda em tão curto espaço de tempo com a necessidade de dizer "Obrigado" ao público nortenho, que sempre o acolhe como se da primeira vez se tratasse.
De facto, a relação entre o público do Norte de Portugal e o ex-vocalista dos Bauhaus é algo de quase inexplicável, tal a empatia. Com os Bauhaus ou a solo, Peter Murphy é um músico que os portugueses adoptaram como um dos seus principais cultos.
Não fosse a careca que já espreita, ninguém diria que Murphy já ultrapassou a barreira do meio século de vida, tal a sua prestação em palco e qualidade vocal que mantém intocável. Igual a si próprio, contracenando com os diversos focos de luz, ou simplesmente consigo mesmo, o autor de «Should The World Fail to Fall Apart» (1986) entrou em palco sozinho recebeu uma enorme ovação, que agradeceu com aplausos também, e intrepretou sem música «Cool Cool Breeze», mostrando que os anos que passaram pela sua voz lhe conferiram apenas mais maturidade.
Na plateia eram muitos poucos os Sub-30, com a grande maioria a demonstrar ser apreciadora de longa data. O público sabia ao que ia, ninguém (ou poucos) eram estreantes em concertos daquele que foi, em tempos, denominado Padrinho do Gótico (vá-se lá saber porquê, mas são opiniões!), pelo que desde o primeiro tema a química funcionou.
«Burning from the inside» foi a primeira do repertório dos Bauhaus a ouvir-se num Coliseu composto (apresentava pouco mais de meia casa), com os presentes a glosarem do momento dos dois lados do palco. 
Já em camisa, Peter Murphy prossegue a sua singular interpretação, transformando o concerto num agradável espectáculo. «Marlene Dietrich's favourite poem» dá à actuação o toque de intimismo q.b., seguindo-se «Time has got nothing to do with it», com Murphy à viola.
Com o concerto a ganhar ritmo novamente, o inglês tira a camisa e veste o casaco, levando o público (muito feminino) a fazer-se ouvir. «Black stone heart» é a única canção do álbum que pôs fim à carreira dos Bauhaus, «Go Away White» (2008), que interpreta, oferecendo, de seguida, o fantástico «Huvvola», para se retirar, pela primeira vez, com «Idle flow».
O público estava deleitado e exigia o regresso a palco dos músicos. Adivinhavam-se os «hits» pelo quais muito do público estava ali e ansiava. 
Um parêntesis: gostava aqui de reflectir sobre os fãs de Peter Murphy.
Aos indefectíveis desde os tempos de Bauhaus junta-se um público «geração RFM». Estes têm nos «hit singles» dos Anos 90 as suas grandes referências. Alguns têm essas canções como músicas das suas vidas, pelo que num concerto do inglês anseiam desesperadamente por eles e esperando sempre que o músico ofereça uma espécie de «best of... The Singles». Azarinho!...
Sem, no entanto, deixar de lhes fazer um pouco a vontade, Murphy esmerou-se nos dois «encores». Com domínio «bauhauiano», ouviu-se, primeiro «Strange kind of love», com a massa humana a manifestar-se ruidosamente, mas a que o músico, que estava à viola, colou «Bela Lugosi's dead». Uma mistura já apresentada no Marés Vivas e que fica extraordinária. Diga-se que o tema dos Bauhaus é maravilhoso... Depois, e nem precisa de descrição, «She's in parties», com a guitarra a parecer que vem dos confins do mundo para nos atormentar. Ah, o Padrinho do Gótico!...
No segundo regresso, Peter Murphy deu à «geração RFM» o que ela tanto queria, «Cuts you up», terminando o concerto de quase duas horas num resgito extremamente intimista, como é o de «All we ever wanted was everything».
Que dizer... pode voltar que nós cá estaremos, nunca é de mais quando o que se vê e ouve é bom. Murphy deixou o anúncio de que vem aí álbum novo, razão para nova visita já em 2009. Cá estaremos, Peter!

Alinhamento:

Cool Cool Breeze
The Line Between the Devil's Teeth (And That Which Cannot Be Repeat)
Disappearing
Burning from the inside
Gliding like the whale
Hurt (NIN)
Marlene Dietrich's favourite poem
Time has got nothing to do with it
I'll fall with your knife
(*)
Black stone heart
Huvvola
Idle flow

Strange kind of love/Bela Lugosi's dead
She’s in parties

Cuts you up
All we ever wanted was everything


(*) Tema que não identifiquei

1 comentário:

PeepingJane disse...

Gosto muito deste senhor, muito mesmo. Mas já quase não tenho pachorra pra ele... confesso. Sim, sr. Murphy, está a ficar chatinho... Um dia destes deixo de o chamar pelo nome e chamo-lhe: «Gene Loves Jezebel»! :D lol, com as devidas ressalvas, claro!