quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Este nojo que sinto

Quero vociferar esta raiva…
Libertar-me deste nojo que sinto.
Por ser em relação a outro ser,
Que me dizem ser, humano
Mas no qual não reconheço
Tal dádiva da vida.
Dádiva, não de um deus,
Seja ele qual for,
Dádiva, não de um homem,
Por mais poderoso que seja,
Mas tão simplesmente
Porque a vida é demasiado preciosa
Para não ser amada, respeitada e…
Ela sim, venerada, idolatrada ao extremo.
Por isso, quero gritar essa dor alheia,
Que não é minha, desprezo-a,
A dor que deve ser a estupidez extrema,
A dor do fanatismo armado… em parvo,
Porque de parvos se trata!
A estupidez humana exibindo-se
Como se não tivesse limite…
Je ne suis pas Charlie.
Eu sou Pedro Vasco Oliveira

E também não tenho medo!...


domingo, 4 de maio de 2014

Quero ser eternamente o menino da mãezinha!...

Quero ser eternamente o menino da mãezinha. Ter colo, pelo menos, até aos 70, como aquele vetusto senhor que vivia num Lar na encosta da Serra da Estrela… juntamente com a sua mãe de 100 anos.
Quero ser eternamente criança e ter colo até morrer… Colo de mãe, porque mais nenhum outro se lhe equipara. Colos há muitos, mas nenhum como o da mãe. Um colo que começa por ser interior e onde a mãe, por entre toda a fragilidade da gestação, nos confere a maior segurança e conforto possível a um ser humano. Um colo que nos permite nascer, crescer, desenvolver e tocar o inimaginável, porque uma vez cá fora, diante do Mundo, o céu é o limite.
E mãe que é mãe é mãe que nos ama incondicionalmente como mais nenhuma mulher na face da terra e entre universos por descobrir, a única que sabemos nos ser fiel até ao sacrifício extremo, a morte mesmo, e que nos dá ao longo da vida não só um colo macio e confortável, seguro e (o mais) estável (possível), mas também um enorme e quase impenetrável guarda-chuva, qual escudo contra todas e quaisquer atrocidades, ou simples dificuldades, da vida.
Ter uma mãe é ter uma vida, isto sem esquecer o pai, elemento fulcral em todo o processo, mas que hoje fica com o papel secundário na história aqui contada.
Porém, e isto é muito, muito importante, mãe para ser mãe tem que ter filho(s) que também a ame incondicionalmente e reconheça o seu feito extraordinário.

Por isso, mãe Natália, tu és MÃE!...

Ass: Pedro Vasco Oliveira

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Evolua-se, então!

(Artigo de opinião escrito e publicado a 28 de Abril de 2004, em O Primeiro de Janeiro, evocando os 30 anos da Revolução de 25 de Abril de 1974 e mais uma celebração do 1.º de Maio)


A propósito do dia 1 de Maio, há dias um colega, um pouco mais novo do que eu, dizia-me que esta data, tal qual a da Revolução de Abril, tende inexoravelmente a deixar de ser evocada e a deixar de fazer sentido.
É, sem dúvida, sintomático da realidade que perpassa os nossos dias e os nossos jovens… Imagino o que será nos ainda mais jovens!
Reconheço que o fulgor idealista que se viveu no pós-Revolução não possa hoje ser o mesmo e que ainda será muito menor quando as gerações que consciente e activamente viveram e fizeram esses dias desaparecerem. É o mesmo que se passa com o 5 de Outubro, o 1 de Dezembro e tantas outras datas que os anos e os séculos apagaram. Se repararmos, nem as datas religiosas resistiram à erosão do tempo, pois actualmente o Natal, a Páscoa e até o 13 de Maio (tão português!) não passam de manifestações pagãs, onde o capitalismo comercial se instalou, qual vírus letal em corpo indefeso e desprevenido.
Mas recuso submeter-me à ideia de que, só porque os anos passam, as memórias se esvaem e os ideais morrem.
Por falar em ideais, sempre achei que o que faltou aos da minha criação foi um ideal pelo qual lutar. Gerações posteriores à minha encontraram no Ensino a sua luta e o seu argumento para darem largas à rebeldia própria da juventude e que, quer se goste quer não, faz a coisa andar para a frente. As anteriores à minha tinham a ditadura para combater. E diga-se, que propósito tão nobre… Lutar pela dignidade humana, pelo respeito e pela liberdade…
Talvez por ter tido um contacto tão próximo com pessoas que sentiram na pele a falta de liberdade dê tão grande valor ao que foi o 25 de Abril e ao que é a celebração do Primeiro de Maio.
É tão só um dia dedicado a esse ser, que também sou, que faz da força do seu trabalho (mental e/ou física) o seu sustento e dos seus, o motor do desenvolvimento de um País, a base de uma sociedade que deveria tratar por igual todos os seus elementos. É tão só um dia como o da Mãe, ou do Pai, que evocam as pessoas mais importantes da vida de todos e de cada um, ou não tivessem sido eles que nos conceberam.
Por isso, em tempo de ataque cerrado aos direitos do trabalhador, exulte-se e celebre-se as conquistas conseguidas em prol dos mais desfavorecidos, evolua-se para que não seja preciso sentir-lhes a falta (novamente) e ser necessário fazer-se novas revoluções.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

ESTA MERDA É TODA MINHA!...

Sou um hedonista. E o ano de 2013 mostrou-me que é assim que sou feliz. Sempre fui um hedonista, em que o amanhã e mesmo o além de amanhã (como se diz na minha terra) pouco importam, ou pelo menos importam muito menos do que o hoje e o agora.
Sou de uma geração sem causas, sem grandes ideais pelos quais lutar. Uma geração que viveu a balbúrdia da transição da ditadura para a democracia, a abertura do País às duas faces da moeda que o Mundo nos podia oferecer. É a vida!... Por isso, desfrutar o dia-a-dia sempre me pareceu o mais inteligente. Não olhar para a vida como um tempo de sobrevivência, mas como momentos de vivência, de experiência e, muito importante, de felicidade!...
Confirmar que sou um filho do hedonismo é o primeiro pensamento que me surge ao olhar para o defunto ano de 2013, em que a minha vida, como todas as vidas e como em todos os anos, sofreu várias vicissitudes. Mas também o que é a vida sem vicissitudes, idiossincrasias e coisas do género?
Há uma natural tendência para sobrevalorizar os maus momentos e ficar-se apenas pela deliciosa nostalgia dos bons…
Por momentos, em 2013, vi-me paraplégico, capaz apenas de me movimentar através de uma cadeira de rodas, uma imagem de futuro angustiante e muito nebulosa. E, talvez por isso, nunca valorizei muito, talvez devidamente, aquilo por que estava a passar. Ou melhor, acho que valorizei o que tinha que valorizar. E
agora passados uns quantos meses, não tenho dúvidas de que foi a melhor opção. Felizmente o mal passou, a normalidade retornou e agradeço à angústia ter-me demovido de sofrer por antecipação, o que afinal não tive ou não estou para já efectivamente a ter que sofrer. Correu bem!...
O hedonismo paga-se caro, dizem, mas que fazer… O que não nos mata fortalece-nos e o que vivemos é sempre grandioso, temos apenas que criar a nossa escala. Depois é algo que fica dentro de nós. Por vezes no corpinho, cá tenho as minhas «cicatrizes» na medula, outras, e essas sempre e bem mais valiosas, as da alma.
Ao olhar para 2013 apraz-me muito mais pensar que são, de facto, os sonhos que nos fazem viver, porque sem eles simplesmente sobrevivemos. O pior dos cenários que a doença me podia trazer é em muito suplantado pela alegria de ter voltado a pisar um palco, oferecer a minha música, mais as minhas palavras, e a minha interpretação. Para além de foi um ano em que projectei um futuro musical que estou confiante 2014 vai acolher com agrado. Aguardem-nos, fuckers!...
A doença devia levar-te a mudar de vida, dizem-me! O médico, salvaguardando não ser “muito dessas coisas”, disse-me no momento da alta
que o episódio que vivi me “terá tornado mais maduro”. A minha moça, amor da minha vida, acha que deve tornar-me “mais responsável e maduro”. Eu acho que o sou, atendendo a todas as circunstâncias, responsabilidades e anos que levo pendurado na árvore da vida!
Se não fosse como sou e se a doença tivesse dado para o torto, não poderia usufruir no futuro, não teria usufruído no passado e o presente seria um enorme um ponto de interrogação!... Não é que a vida não o seja sempre, mas sê-lo-ia numa cadeira de rodas, o que, pela pouca experiência que tive, torna tudo mais complicado… ainda!
O defunto ano de 2013 serviu-me, essencialmente, para confirmar a fragilidade humana em toda a sua plenitude. Vi e senti como tudo isto é débil, como um simples sopro da própria vida é capaz de desfazer uma pessoa. E vi e senti como o sonho é mais forte e nos leva a patamares superiores em cada dia que estamos vivos e, de preferência, saudáveis!...
Quero e recordo 2013 como algo que me deve fazer continuar a usufruir da vida, porque de hoje para amanhã sabe-se lá em que estado estamos.
O meu parceiro de quarto no hospital estava constantemente a suspirar: “Ao
que nós chegámos…”!
Não me importo de com 88 anos, como ele, suspirar o mesmo, mas quero fazê-lo de alma cheia, com um espírito ainda voraz e uma vontade imensa de enganar a morte e a desgraça e continuar a abraçar a vida… agitada, confusa, brilhante, por vezes ofuscante, mas sempre bela.
Ah, e obviamente, 2013 trouxe-me a confirmação plena de algo de que nunca desconfiei: tenho, de facto, muitos e bons amigos! Também, até
agora é para o que tenho vivido, para fazer amigos e esses são o melhor que
a vida tem e nos dá. Porque o resto, tipo filhos e assim, somos nós que os arranjamos!... Quer dizer, por vezes também no-los arranjam, mas faz parte da vida!
Isto é apenas uma breve consideração sobre 365 dias que já passaram, sem qualquer tipo de nostalgia ou sentimento antagónico. Foi mais um ano que passou e o que espero do novo ano é poder continuar a desfrutar de todos e cada dia que a vida me proporciona sempre que acordo de manhã, de preferência… tarde!...


E agora, roda no ar e à voz de siga, siga. SIGA!...








sexta-feira, 19 de junho de 2009

Beautiful concert

É extraordinário ir a um concerto e ser surpreendido. De espírito aberto fui ao concerto de Marilyn Manson, de quem nunca fui conhecedor e, confesso, nunca ouvi um álbum de princípio ao fim. Quando Manson apareceu e deu nas vistas andava preocupado com outras coisas e a ouvir outros sons.
Contudo, e voltando ao concerto de quarta-feira, no Coliseu do Porto, assisti a uma actuação rock à antiga, sem grandes espalhafatos em palco, que sinceramente não sei se alguma vez teve, recorrendo apenas a alguns adereços, que (diga-se) fazem falta em muitos concertos.
A guitarra de Twiggy Ramirez soa a desvairada, potenciando a vocalização de Manson, que nunca pára em palco, apoiado ainda no som do baixo, bateria e teclados.
A razão da visita era a apresentação do sétimo álbum do anticristo, «The High End Of Low» e foi muito disso que os fãs, que enchiam a sala da Invicta receberam.
Entre músicas, dois roadies assistem o vocalista em palco, limpando os cabelos, retocando maquilhagem, dando-lhe água... Mas Manson, de sweat-shirt negra com uma enorme lâmina de barbear na frente, coleira e trela, incita as hostes. Os enormes holofotes de pé, a redoma em cubo de plástico e rolante, o microfone em forma de faca... performance!
Na plateia e nas galerias o público está inquieto, agita-se e acompanha o ritmo feroz dos temas e canta também. O concerto decorreu sempre em alta, numa fruição extraordinária.
Uma hora de actuação e, sem que alguém desse por ela, a banda sai de palco. Um som vindo do escuro palco e uns projectos voltados para a plateia, deixaram o público em suspenso. Face à demora, a massa humana experimentou chamar pelos músicos, mas nunca com grande convicção. É um entretanto mais comprido, ou já acabou? Ninguém colocava a possibilidade de já ter acabado...
Novamente, sem avisar ninguém, Marilyn Manson está em palco e toca «We're from America», iluminado por dois candelabros com inúmeras velas. A fechar, um momento de catarse, com o público a libertar-se em definitivo, mas acabaria por ser tarde. «Beautiful People» encerrou o concerto, que olhando ao alinhamento, ainda tinha previsto mais um encore de três temas...
De qualquer das formas, ainda bem que fui ao Coliseu do Porto, pois adorei o concerto rock incrível que Marilyn Manson protagonizou.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Little Annie brilhou na luz dos Larsen

Neste meu esforço de pôr a escrita em dia, recordo agora o concerto de Little Annie, juntamente com os Larsen, no Auditório de Serralves, no passado dia 13 de Maio, data tão simbólica para este Portugal religioso e conservador. Por isso, nada melhor do que assistir (felizmente, para mim) mais uma vez a um concerto de Little Annie, essa norte-americana conhecida mundialmente como diva punk do cabaret pós-moderno que também dá pelo nome de Annie Anxiety ou Annie Bandez. Pormenores...
A surpresa, para mim, foram mesmo os Larsen. Se de Little Annie já sabia com o que podia contar, o mesmo não posso dizer do quarteto italiano. Soberbo. A densidade melódico-sonora que criaram em Serralves foi, para além de mais, a cama perfeita para a interpretação da pequena, frágil e doce norte-americana.
A abertura do espectáculo ficou a cargo dos Larsen, que souberam criar a atmosfera ideal para a entrada em palco da titubeante de Little Annie, que abriu com «Lefrak city limits».
ambiente intimista espalhava-se pelo espaço e do alto dos seus expressivos saltos de agulha a diva recordava... "When I was seventeen". «Very good year» fixava Little Annie em palco, que cantou ainda mais um tema.
A fechar, os italianos intrepretaram mais quatro temas sem a norte-americana, o último dos quais a abrir o encore, «Radial».
A encerrar o concerto, Little Annie e Larsen ofereceram «If Cain were able», num momento de enoirme empatia entre o palco e a plateia.
Foi bom rever em palco Little Annie, numa versão diferente - da outra vez foi apenas acompanhada ao piano -, e enriquecida pelas paisagens sosnoras dos Larsen.

A rara beleza de Antony Hegarty

Foi um Antony Hegarty extraordinariamente bem-disposto e conversador o que ontem esteve em palco no Coliseu do Porto. O mote era a apresentação do seu último trabalho discográfico, «The Crying Light», pelo que se fez acompanhar, como habitualmente, pelos The Johnsons.
A sala da Invicta abarrotava pelas costuras de um público já rendido mesmo antes de se ouvirem os primeiros acordes. O desenrolar do concerto acabou por mostrar um Antony também ele rendido ao público portuense - ou português, pois este foi o terceiro concerto que deu em quatro dias entre nós -, parando amiúde a actuação para, simplesmente conversar com o público. Apaixonou-se mesmo, quando num momento de silêncio de um dos temas alguém gritou do Balcão. "Eu estava a apaixonar-me [recordava a letra da canção] e apaixonei-me por vocês", explicou no final da canção.
Os gritos de agrado lançados da plateia eram frequentes e isso, via-se, mexia com o músico, que permaneceu sempre sentado ao piano.
Do novo trabalho ouviram-se a maioria dos temas, como «Her eyes are underneath the ground», «Kiss My name», «The crying light», «Epelepsy is dancing»«Aeon», entre outros, mas igualmente algumas pérolas dos álbuns anteriores, «I Am A Bird Now», como «Fistful of love», «Hope there's someone» e «Another world», entre outras.
O público adorava os momentos musicais, os momentos de descontracção de Antony em palco, que perguntava como estava a cidade e dissertava sobre obrigações cívicas, actrescentando ainda depositar muita esperança em Obama, apesar deste estar sobre grande pressão e ter um mundo em falência nas mãos... Mesmo assim, Antony ainda fez um reapro ao presidente dos Estados Unidos: "Fiquei muito triste quando ele na semana passada decidiu não revelar as fotos da tortura", afirmou.
Antes de «Hope mountain», que conta a história do regresso de Jesus Cristo em versão feminina, Antony explicou que abandonou a igreja católica por não se sentir aceite nas suas opções de vida...
Mas a descontracção de Antony era tal que não só se deu ao improviso, como repetiu várias vezes o final de uma das canções, tal era o gozo que o mesmo lhe estava a dar.
O espectáculo começou com uma bailarina sozinha em palco, fazendo-se passar por um pássaro e por um cavalo, num dos momentos visualmente mais belos... Porque depois a vocalização de Antony e a cama sonora que os The Johnsons lhe oferecem são momentos de constante e rara beleza. A maviosidade da voz e a composição doce, delicada e meiga das canções remetem para um universo deleitoso, onde o belo impera.
Um extraordinário concerto, em que (repito) o belo inundou um Coliseu do Porto, que se despediu do britânico com uma tremenda ovação de pé.