terça-feira, 28 de outubro de 2008

Nneka, a activista do amor


Deslumbrante é a palavra certa para descrever a actuação da nigeriana Nneka, ontem à noite, na Casa da Música, no Porto. Hoje é dia de subir ao palco da discoteca Lux, em Lisboa, mas na memória de todos os que ontem marcaram presença na Sala 2 do espaço da Invicta é um concerto intenso, em que a cantora não se coibiu de o tranformar numa espécie de acção de protesto.
A primeira imagem que se retém de Nneka é a de que, por debaixo daquela farta (e ponha-se farta nisso) cabeleira, está um rosto de uma rapariga refilona e até com algum mau-feitio. Porém, com o passar do tempo, das canções e das palavras (de ordem) o que fica é uma activista convicta, detentora de uma voz singular e fantástica, que canta o amor e as injustiças e que usa a criatividade em favor dos mais desfavorecidos. No caso concreto, a grande preocupação e luta de Nneka é em prol do povo Warri, que habita na região do delta do Níger e de onde ela é natural, vítima da exploração das grandes multinacionais petrolíferas e ainda da corrupção que grassa e desgraça o seu país natal, a Nigéria.
Na bagagem, Nneka trouxe «No Longer At Ease», o segundo álbum de originais, mas do disco de estreia, «Victims of Truth», também se ouviram um lote de belas canções.
Acompanhada por quatro excelentes músicos, em se destaca a secção rítmica - o baixo é extraordinário, sempre muito bem apoiado pela bateria -, a cantora radicada em Hamburgo doseou muito bem o concerto, não seguindo um alinhamento rígido, interpretando os temas à medida que considerava ser aquele o mais indicado para o momento.
E o primeiro grande momento surgiu logo com a segunda música. Em «Gipsy», Nneka mostrou a intensidade da sua voz, ou seja, o poder que com ela tem de captar a atenção. De seguida, e após dissertar poeticamente sobre o amor, ofereceu «The uncomfortable truth», que colou em «Confession». Depois, à viola, interpretou «Come with me».
O público estava rendido e recebia um prenda. Há um mês em digressão, Nneka e a banda compuseram um novo tema, de forte influência flamenca, mas que musicalmente sobressai a mistura de estilos, seguros apenas pela voz da nigeriana. «Toucher», ou «Toto», é o título da nova música, que aborda o tema da corrupção na Nigéria através da história de um homem comum, como explicou a cantora.
Um breve intervalo, com a banda a protagonizar, sem Nneka, um tema, para o concerto voltar em força, especialmente no protesto.

Nneka gosta de conversar com o público e de transmitir as suas preocupações com o que se passa no seu país natal. «Suffri» trouxe com ele o discurso mais político, com Nneka a acusar as grandes petrolíferas e os políticos nigerianos de sugarem o povo, em nada contribuindo para o seu desenvolvimento e, mais grave, sobrevivência.
«Beautiful», com a plateia a fazer coro, «Heartbeat» e «Níger Delta» completaram uma actuação que teve em «Lord of mercy» a despedida em jeito de oração, depois de mais de hora e meia de concerto, que terminaria com um regresso a palco para cantar «Focus».
Pode voltar que vamos gostar muito de a ver e ouvir novamente.

1 comentário:

Tiago Ramos disse...

Fiquei rendido à actuação dela na Casa da Música!