quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Diário de um descartado VIII

Depois de tantas mentiras e tantas aldrabices - já se viu ser a única forma que aquela gente sabe estar na vida - e depois de tantos (demasiados) dias sem ver a cor do dinheiro que nos é devido, legal e moralmente, foi hoje dito aos jornalistas e outros funcionários despedidos d'O Primeiro de Janeiro que tiveram que se deslocar a Santa Catarina onde funciona (como sempre funcionou) a Administração do matutino, que, mais tardar, até ao final da segunda semana de Setembro, as remunerações em falta seriam pagas.
Mais uma mentira, mais uma aldrabice.
Esta é a minha convicção, pois não tenho esperança nenhuma que dali me seja pago um cêntimo do que me é devido, que são vários milhares de euros. Caso contrário, os euros relativos à parte em falta de Junho e ao salário completo de Julho, tal como nos foi garantido pela Administração por interposta pessoa. Ou seja, pela directora Nassalete Miranda quando no dia 31 de Julho nos comunicou que faríamos a última edição daquele Janeiro, pois havia esperanças de encontrar investidores que permitissem relançar o mais antigo jornal diário do País no arranque do mês que corre. Regressaria às bancas dois dias depois.
Vistas bem as coisas, mais mentiras, mais aldrabices e, novamente, com nome próprio, que me escuso de referir. Enoja-me, simplesmente!
Mas na soma dos calotes destes senhores que altos responsáveis do Estado apelidam de "empresários modelo" há que contar ainda com os subsídios de férias, as próprias férias - no meu caso particular, são a totalidade, pois nem um dia cheguei a gozar, mas muitos camaradas de redacção ficaram ainda com bastantes dias por gozar -, os duodécimos do subsídio de Natal e, the last but not the least, as indemnizações.
Ora, se esta fosse gente que está na vida de boa-fé, se fosse uma pessoa de bem e, já para não falar de outras questões, tivesse um pingo de ética (tão necessária que é para que com orgulho se exiba uma Carteira Profissional de Jornalista) tinha feito o que devia, ou seja, pagava o que tinha de pagar sem subterfúgios e sem colocar as pessoas em situações difíceis e algumas delas bem complicadas do ponto de vista da sobrevivência.
Enquanto isso, quais intocáveis, pavoneiam-se por campos de futebol e, quiçá, rinques de futsal.
Por tudo isto, e depois de 14 anos na empresa, assistindo a um vasto rol de ilegalidades e à completa incompetência administrativa - quando lhes pedi uma cópia do meu contrato de trabalho responderam-me: "Não sabemos do seu contrato, mas não se preocupe" -, não me peçam para acreditar em quem nos últimos oito anos me disse (e aos outros) que não havia dinheiro para aumentar salários e sempre soube pedir mais empenho, mais trabalho, mais esforço. Enquanto isso, a colecção de carros topo de gama cresceu na garagem e uma qualquer marina aporta o iate...
Por isso, acham mesmo que mais esta garantia serve de alguma coisa a alguém.
Vergonha, muita vergonha na tromba é o que deveriam ter os responsáveis pelo despedimento e todos os coniventes (directa e/ou indirectamente) com tal acto.

Uma vez mais, vou citar os Linda Martini. E faço-o, não só porque o verso é belíssimo, mas porque com a alteração introduzida me sinto com mais força para avançar e esquecer que um dia (e foram 14 anos!!!!) trabalhei para aqueles algozes.
Mais a mais, no passado sábado assisti a um extraordinário concerto, nas Noites Ritual, da banda que assina «Olhos de Mongol» e «Marsupial». Voltem depressa ao Norte.



"O chão que pisas JÁ NÃO sou eu"
(«Amor-Combate»)
Desculpem a repetição, mas é mais forte do que eu.

Espero em breve fechar em definitivo este Diário, pois é dar importância a mais a quem não a merece.

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