sexta-feira, 19 de junho de 2009

Beautiful concert

É extraordinário ir a um concerto e ser surpreendido. De espírito aberto fui ao concerto de Marilyn Manson, de quem nunca fui conhecedor e, confesso, nunca ouvi um álbum de princípio ao fim. Quando Manson apareceu e deu nas vistas andava preocupado com outras coisas e a ouvir outros sons.
Contudo, e voltando ao concerto de quarta-feira, no Coliseu do Porto, assisti a uma actuação rock à antiga, sem grandes espalhafatos em palco, que sinceramente não sei se alguma vez teve, recorrendo apenas a alguns adereços, que (diga-se) fazem falta em muitos concertos.
A guitarra de Twiggy Ramirez soa a desvairada, potenciando a vocalização de Manson, que nunca pára em palco, apoiado ainda no som do baixo, bateria e teclados.
A razão da visita era a apresentação do sétimo álbum do anticristo, «The High End Of Low» e foi muito disso que os fãs, que enchiam a sala da Invicta receberam.
Entre músicas, dois roadies assistem o vocalista em palco, limpando os cabelos, retocando maquilhagem, dando-lhe água... Mas Manson, de sweat-shirt negra com uma enorme lâmina de barbear na frente, coleira e trela, incita as hostes. Os enormes holofotes de pé, a redoma em cubo de plástico e rolante, o microfone em forma de faca... performance!
Na plateia e nas galerias o público está inquieto, agita-se e acompanha o ritmo feroz dos temas e canta também. O concerto decorreu sempre em alta, numa fruição extraordinária.
Uma hora de actuação e, sem que alguém desse por ela, a banda sai de palco. Um som vindo do escuro palco e uns projectos voltados para a plateia, deixaram o público em suspenso. Face à demora, a massa humana experimentou chamar pelos músicos, mas nunca com grande convicção. É um entretanto mais comprido, ou já acabou? Ninguém colocava a possibilidade de já ter acabado...
Novamente, sem avisar ninguém, Marilyn Manson está em palco e toca «We're from America», iluminado por dois candelabros com inúmeras velas. A fechar, um momento de catarse, com o público a libertar-se em definitivo, mas acabaria por ser tarde. «Beautiful People» encerrou o concerto, que olhando ao alinhamento, ainda tinha previsto mais um encore de três temas...
De qualquer das formas, ainda bem que fui ao Coliseu do Porto, pois adorei o concerto rock incrível que Marilyn Manson protagonizou.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Little Annie brilhou na luz dos Larsen

Neste meu esforço de pôr a escrita em dia, recordo agora o concerto de Little Annie, juntamente com os Larsen, no Auditório de Serralves, no passado dia 13 de Maio, data tão simbólica para este Portugal religioso e conservador. Por isso, nada melhor do que assistir (felizmente, para mim) mais uma vez a um concerto de Little Annie, essa norte-americana conhecida mundialmente como diva punk do cabaret pós-moderno que também dá pelo nome de Annie Anxiety ou Annie Bandez. Pormenores...
A surpresa, para mim, foram mesmo os Larsen. Se de Little Annie já sabia com o que podia contar, o mesmo não posso dizer do quarteto italiano. Soberbo. A densidade melódico-sonora que criaram em Serralves foi, para além de mais, a cama perfeita para a interpretação da pequena, frágil e doce norte-americana.
A abertura do espectáculo ficou a cargo dos Larsen, que souberam criar a atmosfera ideal para a entrada em palco da titubeante de Little Annie, que abriu com «Lefrak city limits».
ambiente intimista espalhava-se pelo espaço e do alto dos seus expressivos saltos de agulha a diva recordava... "When I was seventeen". «Very good year» fixava Little Annie em palco, que cantou ainda mais um tema.
A fechar, os italianos intrepretaram mais quatro temas sem a norte-americana, o último dos quais a abrir o encore, «Radial».
A encerrar o concerto, Little Annie e Larsen ofereceram «If Cain were able», num momento de enoirme empatia entre o palco e a plateia.
Foi bom rever em palco Little Annie, numa versão diferente - da outra vez foi apenas acompanhada ao piano -, e enriquecida pelas paisagens sosnoras dos Larsen.

A rara beleza de Antony Hegarty

Foi um Antony Hegarty extraordinariamente bem-disposto e conversador o que ontem esteve em palco no Coliseu do Porto. O mote era a apresentação do seu último trabalho discográfico, «The Crying Light», pelo que se fez acompanhar, como habitualmente, pelos The Johnsons.
A sala da Invicta abarrotava pelas costuras de um público já rendido mesmo antes de se ouvirem os primeiros acordes. O desenrolar do concerto acabou por mostrar um Antony também ele rendido ao público portuense - ou português, pois este foi o terceiro concerto que deu em quatro dias entre nós -, parando amiúde a actuação para, simplesmente conversar com o público. Apaixonou-se mesmo, quando num momento de silêncio de um dos temas alguém gritou do Balcão. "Eu estava a apaixonar-me [recordava a letra da canção] e apaixonei-me por vocês", explicou no final da canção.
Os gritos de agrado lançados da plateia eram frequentes e isso, via-se, mexia com o músico, que permaneceu sempre sentado ao piano.
Do novo trabalho ouviram-se a maioria dos temas, como «Her eyes are underneath the ground», «Kiss My name», «The crying light», «Epelepsy is dancing»«Aeon», entre outros, mas igualmente algumas pérolas dos álbuns anteriores, «I Am A Bird Now», como «Fistful of love», «Hope there's someone» e «Another world», entre outras.
O público adorava os momentos musicais, os momentos de descontracção de Antony em palco, que perguntava como estava a cidade e dissertava sobre obrigações cívicas, actrescentando ainda depositar muita esperança em Obama, apesar deste estar sobre grande pressão e ter um mundo em falência nas mãos... Mesmo assim, Antony ainda fez um reapro ao presidente dos Estados Unidos: "Fiquei muito triste quando ele na semana passada decidiu não revelar as fotos da tortura", afirmou.
Antes de «Hope mountain», que conta a história do regresso de Jesus Cristo em versão feminina, Antony explicou que abandonou a igreja católica por não se sentir aceite nas suas opções de vida...
Mas a descontracção de Antony era tal que não só se deu ao improviso, como repetiu várias vezes o final de uma das canções, tal era o gozo que o mesmo lhe estava a dar.
O espectáculo começou com uma bailarina sozinha em palco, fazendo-se passar por um pássaro e por um cavalo, num dos momentos visualmente mais belos... Porque depois a vocalização de Antony e a cama sonora que os The Johnsons lhe oferecem são momentos de constante e rara beleza. A maviosidade da voz e a composição doce, delicada e meiga das canções remetem para um universo deleitoso, onde o belo impera.
Um extraordinário concerto, em que (repito) o belo inundou um Coliseu do Porto, que se despediu do britânico com uma tremenda ovação de pé.

sábado, 16 de maio de 2009

Todos diferentes, todos iguais... de branco


Foi a curiosidade que me levou até ao Pavilhão Atlântico, no passado sábado, para participar na festa do ano - foi promovida como tal - em Portugal: Sensation - The Ocean of White.
O desafio, para mim, era grande pois a indumentária exigia a cor branca, algo quase impossível para o meu guarda-roupa. Para além disso, vestir integralmente de branco foi um verdadeiro desafio para mim, que habitual, natural e normalmente visto (integralmente) de negro.
Porém, a expectativa de marcar presença num evento que poderia rebuscar o conceito das antigas rave parties falou mais alto e, então, aventurei-me.
Para ser sincero, esta parte do conceito rave não existiu, a não ser pela quantidade de pessoas presentes e pelo espírito de que estavam todas embuídas. Mas uma rave para ser rave tem que ter na componente musical um dos seus pontos fortes e, na Sensation, isso é algo relegado para segundo plano. Pelo menos pelo que me deu observar e ouvir no Pavilhão Atlântico.
Se Mastik Soul esteve muito bem, contagiando as cerca de 15 mil almas presentes com beats fortes e apelativos à dança, já os demais deixaram um pouco a desejar. Excepção ainda ao norte-americano Felix Da Housecat, um verdadeiro senhor dos gira-discos e da house music.
De resto, musicalmente, aquilo mais pareceu um arraial de música de dança.
Música à parte, porque a Sensation é mais o resto do que propriamente o sonido, a festa foi um verdadeiro espectáculo. Logo à partida, o espaço estava decorado de forma excepcional, remetendo para o imaginário oceânico, com gigantescas medusas suspensas da cobertura do pavilhão, contando ainda com a exibição, em diversos momentos, de imagens digitais de animais marinhos, tais como tubarões e golfinhos, entre outros. Um autêntico e imenso oceano digital exibido em dois enormes ecrãs nos topos do pavilhão e ainda em torno da giratória cabina do deejay. Desta como que emergia uma enorme estrutura de forma molecular, como se fosse a origem de tudo aquilo que ali acontecia. Depois, muita cor, muita luz, raios laser desenhando o espaço vazio, pirotecnia e jactos de água criavam um ambiente fabuloso, congregando todos os presentes para a festa. E porque uma festa desta dimensão não vive apenas de música, luz e cor, foram muitas as performances nas duas passerelles que partiam da cabina prolongando-se pelo rinque do pavilhão. Aí, uma dúzia de bailarinas surgiram a fazer bolas de sabão, outras tantas a dançar sob os jactos de água, ao som da remistura de «Walkinhg on a dream», dos Empire Of The Sun, numa espécie de concurso miss t-shirt molhada, 10 performers em balões; mais uma dúzia de alforrecas humanas e homens voadores, entre muitas outras actuações, algumas das quais em plena pista de dança (leia-se, rinque).
Em resumo, para além da actuação dos disc-jockeys, o público pôde apreciar uma série de performances impressionantes pela qualidade e sincronização, o que emprestou um brilho e glamour fantásticos ao evento.
Estupendo é mesmo o efeito que produz toda aquela vasta massa humana vestida de branco. Todos diferentes, todos iguais... de branco. A verdade é que, apesar da cor única, a diversidade indumentária foi bem mais evidente do que acontece normalmente numa qualquer noite numa discoteca, club ou outro espaço, onde as pessoas acabam por se vestir todas de uma forma mais homógenea. Coisas de moda(s)... Perante a obrigatoriedade ebúrnea, as pessoas, principalmente elas, sentiram a necessidade de caprichar, até porque as mulheres gostam pouco de vestir umas iguais às outras. E se habitualmente a policromia ajuda, ali tinha que ser mesmo através do feitio. E havia por lá escolhas incríveis...
Valeu a pena, gostei do evento na globalidade, mas teria sido melhor se a componente musical tivesse sido mais arrojada. Esperemos que para o ano este aspecto seja melhorado, estando certo que esse talvez não seja o item que mais preocupa a organização. Mas devia. Aquela festa com uma componente sonora de melhor qualidade teria sido verdadeiramente de arromba.
Melhorar este aspecto é fulcral, até porque tive que comprar umas calças brancas que só deverei usar novamente na próxima edição da Sensation - The Ocean of White.

terça-feira, 12 de maio de 2009

segunda-feira, 11 de maio de 2009


São fases. Acho que vou voltar a aproveitar este pequeno caderno de apontamentos. Sou a prova cabal de que a memória humana é falível. A minha particularmente falível, pelo que escrever é o melhor remédio.
A falta de escrita não significou falta de vivências, por isso vou tentar recuperá-las... Assim, a memória me ajude! Nestes últimos tempos houve experiências fantásticas e seminais, ou(tras) não!
Vou experimentar o flashback, talvez através de um estado (meio) entropecido, mas, por isso, extremamente criterioso no que a memórias diz respeito.
Momentos que foram do imenso branco Sensation - The ocean of white, ao negro luciferino de Kenneth Anger, versão Technicolor Skull, com Brian Butler.

domingo, 22 de março de 2009

The Weatherman@Jamboree Park



O Theatro Circo, em Braga, recebeu a primeira apresentação do novo álbum de The Weatherman, que chegará aos escaparates no próximo dia 20 de Abril. Dia 4 é a vez do Auditório de Serralves, no Porto, acolher a apresentação de «Jamboree Park At The Milky Way», um espectáculo em que Alexandre Monteiro se faz acompanhar por seis músicos, que constroem a teia sonora sobre a qual repousa a voz de timbre frágil, mas não fragilizado, do próprio The Weatherman.
«Jamboree Park At The Milky Way» é um excelente sucessor do muito bem acolhido «Cruisin' Alaska» (2006) que deu a conhecer este músico que aprecia as sonoridades de anos 70. Tal como no álbum de estreia, neste segundo trabalho The Weatherman traz uma lufada de ar fresco ao que se faz na área pop-rock em Portugal, oferecendo canções bem cosntruídas, repletas de vocais - todos os sete elementos em palco contribuem vocalmente - que gfazem em muitas ocasiões a festa acontecer.
Entre temas do novo álbum e reinterpretações de canções de «Cruisin' Alaska», o concerto de ontem à noite em Braga, que contou ainda com as actuações de Sandy Kilpatrick & The Pilgrims Of Light e de LittleFriend, provou que as expectativas levantadas com o disco de estreia eram fundadas. Os novos temas têm identidade, a presença em palco cativou o público que tomou poucop mais de meia plateia e houve empatia entre os dois lados do palco.  
No final, a cereja em cima do bolo foi a presença em palco de crca de 40 crianças de uma escola de música de Famalicão, que interpretaram com todos os músicos que já haviam passado pelo palco um tema de despedida que não foi mais do que uma enorme mensagem de esperança.
Foi muito agradável, até porque há que ter em conta que este foi o primeiro concerto deste conjunto de músico no «Jamboree Park».

domingo, 15 de março de 2009

Clubbing em alta

Mais uma grande noite de Clubbing na Casa da Música, a de ontem... Em Fevereiro, a presença dos Tindersticks encheu a CdM de um público que não é o hatural do Clubbing, pelo que a noite, apesar de musicalmente ter mantido a qualidade habitual, foi de certa forma estranha.
Ontem, e apesar de ser noite de AltaBaixa na Rua de Passos Manuel - onde a música comanda a movimentação dos noctívagos entre Maus Hábitos, Passos Manuel e Pitch -, no Clubbing tudo pareceu ter voltado ao normal. Sem nenhum grande nome a encabeçar o cartaz, os três projectos que subiram ao palco da Sala 2 foram grandes nos momentos que porporcionaram ao público, que enecheu o espaço.
Os portuenses X-Wife tiveram a missão de abrir as hostilidades e fizeram-no de forma excelente. A banda, que viu a sala encher-se durante os primeiros temas, correspondeu, não só aos muitos fãs presentes, mas igualmente ao demais público protagonizando um concerto seguro e descontraído. Aliás, à medida que as actuações dos X-Wife se sucedem, João Vieira (voz e guitarra), Rui Maia (teclados), Fernando Sousa (baixo) e Nuno Oliveira (bateria) revelam um maior à-vontade e consistência na interpretação dos temas que constituem o alinhamento da digressão «Are You Ready For The Blackout».
O ambiente que os portuenses conseguiram criar foi uma mais-valia para as duas bandas que se lhes seguiram, ambas vindas do Reino Unido. Os Metronomy assumiram o papel de cabeça-de-cartaz e tiveram o condão de manter a sala completamente cheia, mas também bastante animada e movimentada. A música do trio composto por Joseph Mount (voz, teclados e guitarra), Oscar Cash (saxofone, e teclados) e Gabriel Stebbing (baixo e teclados) apelava à dança e o público correspondeu. A festa instalava-se em definitivo e dava sinais de estar para durar. A postura em palco dos Metronomy não só inclui coreografias em determinados momentos, mas também jogo de luzes praticado pelos próprios com as t-shirts. São os próprios que admitem que haja quem considere aquilo "algo esquisito e até parolo, mas há muita gente que gosta e se divirta". E foi o que também aconteceu na Sala 2 da CdM.
O público estava conquistado, por isso teve direito a um encore de um tema. Porém, os ponteiros do relógio continuavam a andar e, na Cdm, os horários são para cumprir. Com hora de entrada em palco marcada para as 2h00, os Modernaire começaram a tocar cerca de um quarto de hora depois. À banda formada em Manchester, em 2005, por Oscar Wildstyle (teclados) se e Cruella Mill and the 1001 Damnations (voz e violoncelo), juntou-se pouco depois Chesty La Rue (voz) e mais recentemente Ollie (bateria e guitarra). Com dois EP de autor no mercado, os Modernaire apresentaram no Clubbing um concerto muito interessante, em que o jogo de vozes entre as duas vocalistas cria uma sonoridade intrincada e colorida, em que a presença da bateria acrescenta um ritmo mais intenso. De resto, a base sonora reside na electrónica desenvolvida por Oscar, que o violoncelo de Cruella enriquece de forma incrível. Depois, as duas vocalistas exibem-se de froma contagiante, levando a plateia a participar activamente. De tal forma, que um indivíduo saltou mesmo para o palco, ensaindo uns passos de dança com Chesty...
Entretanto, e em especial na zona dos Bares 1 e 2, a festa estava completamente lançada. Era já muito o pessoal que dançava ao som dos deejays de serviço. Primeiro com Lovers & Lollypops Soundsystem e depois com Shir Khan. O alemão conduziu o Clubbing até ao seu fecho, mantendo o muito público em permanente agitação dançante. Muito bem que se portou o germânico, diga-se de passagem.
É bom ter uma noite como esta uma vez por mês... pelo menos!

terça-feira, 10 de março de 2009

Extraordinário

Extraordinário!
Pouco há a dizer ou, se calhar, há muito, mesmo muito para dizer... Porém, (re)viver momentos como os que aconteceram, na passada sexta-feira (6 de Março), no Teatro Sá da Bandeira é único. Quem lá esteve sabe bem do que falo.
Os Mão Morta mostraram estar num extraordinário momento de forma, tocando - arrisco-me a dizer - como nunca e, com um alinhamento histórico, souberam chegar ao público que encheu a velhinha sala portuense. Histórico, no sentido que cobriu os 25 anos de carreira do colectivo de Braga, que a plateia apreciou, mas...
A noite só não foi perfeita, porque o público não cumpriu na totalidade, não o seu dever, mas a sua obrigação!
Se a resposta a «Budapeste», segundo tema do alinhamento, depois de um «Ventos Animais» que abre todos os concertos da tour com o mesmo nome, se ficou por um esboço de agitação até é compreensível. É pública e notória a relação amor-ódio que os fãs têm com o tema, mas também a banda. Só em 2008 o tema foi recuperado em concerto e sempre com a apresentação de "maldito"... 
Agora totalmente incompreensível e inaceitável é a falta de mosh quando se ouviu «E se depois», logo após «Tetas da alienação», dedicado à crise.
Para quem viu o arranque desta Ventos Animais Tour, em Barcelos, sentado e como que amarrado, o concerto do Sá da Bandeira apenas me confirmou as suspeitas desses concerto no Minho: a banda está a tocar como nunca, Adolfo a chegar ao meio século de vida numa forma (vocal e física) extraordinária e os Mão Morta soam muito melhor assistindo de pé.
Os complexos «Arrastando o seu cadáver», «Tu disseste» e «É um jogo» (com Adolfo a dançar, dançar, dançar) criaram o ambiente intenso e profundo que faltava à sala, para de seguida o concerto entrar num crescendo que só terminaria no segundo encore com «Oub'lá».
De «Nus» saiu «Gnoma» para espalhar a palavra que quem estava com dúvidas o rock'n'roll estava ali para ficar. Era caso para dizer: "Tem calma irmão/Que a morte está aí para todos nós/É coisa certa/Mais vale fazer da vida um festim/Canta antes dança/Que a vida não te surja mais ruim".
A partir daí, foi sempre a subir. Com «Em directo (para a teelvisão)» a massa humana começou a agitar-se não mais parando. Seguiu-se uma viagem alucinante até «Amesterdão», um poderoso «Penso que penso» e nova viagem, desta feita, até Barcelona.
O passado regressava e impunha-se expondo toda a qualidade de uma banda que tem sabido ao longo dos anos renovar-se, revitalizar-se... revigorar-se. Mas a grande maioria das almas presentes no Sá da Bandeira é quarentona ou anda por lá perto e o mosh, o crowd surfing, o rebuliço em frente ao palco é como na história de «Anarquista Duval»... "UMA MIRAGEM". E a verdade é que a interpretação de Adolfo e dos restantes Mão Morta merecia mais do público. 
Um dos momentos em que a sintonia entre os dois lados do palco esteve mais evidente foi com o clássico «1º de Novembro». Sentado no palco, Adolfo canta: "Solidão, saudade/Romagens, romaria aos queridos defuntos/Carcaças abandonadas ao passado". A massa agita-se e canta a uma só voz.
A esta altura já nada podia parar a máquina. O público rendia-se finalmente, baixava a guarda e entragava-se à fruição do melhor rock que se faz em Portugal. «Quero morder-te as mãos», «Vamos fugir», «Lisboa» e «Cão da morte» levaram o concerto a ponto caramelo, numa alucinante corrida a fugir da... morte. "Morro Morro No altar de ti"... E foi ali mesmo que o concerto teve o seu epílogo.
Porém, após um brevíssimo descanso, Miguel Pedro, António Rafael, Sapo, Vasco Vaz, Joana Longobardi e Adolfo Luxúria Canibal regressaram ao palco, para oi encore que o concerto de Barcelos não teve.
«Anjos de pureza» retomou o concerto, no momento mais esquecido das últimas actuações da banda, seguindo-se dois temas incontornáveis. «Charles Manson» e «Anarquista Duval» levaram o público ao rubro.
A banda despede-se, as luzes acedem-se e toca música gravada. No entanto, o pessoal não estava para ir já embora. Faltava qualquer coisa!... E, revelando total sintonia com a plateia, os Mão Morta regressaram e, já fora do alinhamento, ofereceram «Oub'lá». Não podiam ter escolhido melhor tema para fechar um concerto que foi extraordinário.
Adolfo fez questão de justificar a excepção do segundo encore com o facto de ter sido o público do Porto que apadrinhou a estreia ao vivo dos Mão Morta. Foi no Orfeão da Foz, corria o ano de 1985. 
Muito ou pouco, por mim, está tudo dito.





Zoetrope

Assistir de novo ao espectáculo Zoetrope, no passado dia 28 de Fevereiro, no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, foi um privilégio. Assim, aqui ficam mais algumas imagens desse excelente concerto multimédia.




quinta-feira, 5 de março de 2009

Entre vampiros e Zoetrope

Sábado passado - é verdade, este é mais um post que chega aqui atrasado... mas mais vale tarde do que nunca - a noite foi boa, longa e intensa. O Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, encheu-se para assistir a Zoetrope, espectáculo dos Micro Audio Waves nascido da colaboração com Rui Horta. Depois da estreia no Porto, que dei conta neste blog, Zoetrope tem andado e continuará em périplo pelo País, mas também algumas cidades da Europa - a última foi Frankfurt - têm recebido entusiasticamente o espectáculo multimédia com banda-sonora original e tocada ao vivo pela banda de Cláudia Efe, Flak e C. Morg. Em abono da verdade diga-se que as várias apresentações têm aprimorado a performance. Pouco depois de terminada a actuação dos Micro Audio Waves em Guimarães, tinha início no Teatro Sá da Bandeira, no Porto, a festa de encerramento do Fantasporto'09, o já incontornável Baile dos Vampiros.
Os Clã foram a única banda a actuar este ano, protagonizando um concerto interessante, no qual a banda de Manuela Azevedo, que surgiu com um visual muito radical e vampiresco, a interpretar algumas versões, como por exemplo de Marilyn Manson, entre outras.A empatia entre a banda e a plateia, que se apresentava simplesmente composta, era grande, de tal forma que os Clã regressaram por três ocasiões ao palco, terminando com uma performance protagonizada por Vítor Hugo Pontes, que assim rendeu Manuela Azevedo na frente da banda. Seguiu-se Dj Kitten cujo set não foi, de facto, o que de melhor aconteceu ao Baile naquele momento. Apesar das boas malhas que escolheu para tocar, Dj Kitten não conseguiu fazer com que a massa humana invadisse a plateia do Sá da Bandeira, àquela altura já transformada em pista de dança. Com umas tentativas, primeiro frustradas, de animar as hostes, surgiu em palco um quarteto de percussão. Os 4Drums marcam ritmo em bidões - ao melhor estilo dos Stomp - enquanto pelo PA são debitados temas de dance music bastante forte. Não entusiasmaram.
Seguiu-se o galego Dj Nacho, disc-jockey da velha guarda, e que demonstrou que quem sabe nunca esquece e quem é bom é... bom. Nacho soube reconquistar o público e conseguiu (re)encher a improvisada pista de dança do velho teatro portuense.
Já o dia nascia, subia ao palco Dj Luís Machado, que no momento mais difícl da noite conseguiu ainda segurar uma bela porção do público.
Três discos depois, e apesar de estar a apreciar o trabalho de Machado, fui dar descanso ao esqueleto.

terça-feira, 3 de março de 2009

Improviso q.b.


Não estava esquecido, mas as atribulações da vida não permitiram que este texto chegasse a esta plataforma antes. Mas o espectáculo merece ser referido, pois foi pouco mais de uma hora de música improvisada de excelente qualidade.
O protagonista, John Zorn, tem créditos firmados no panorama musical e confirmou na sua passagem pela Sala Suggia, da Casa da Música, na passada quinta-feira (dia 26 de Fevereiro).
O saxofonista norte-americano fez-se acompanhar do percussionista Cyro Baptista e ainda pelo duo basco Ttukunak, formado pelas irmãs gémeas Sara e Maika Gomez.
E se John Zorn deliciou com os seus devaneios com o saxofone, as manas Gomez estiveram em grande com o seu txalaparta. Não tão bem, pelo menos para mim, esteve Cyro. Apesar do brasileiro ser bastante conceituado no meio musical e ter já acompanhado grandes artsitas, a verdade é que abrasileirou de mais a sonoridade que John Zorn e as Ttukunak ofereceram ao público que lotou a sala principal da CdM.
Nota mais para as Ttukunak, uma estreia absoluta para a minha pessoa. A txalaparta é um instrumentos de madeira, ferro e ardósia, três peças separadas, que emitem um som fantástico e que as gémeas tocam com grandes mestria.
Fica, então, aqui o pequeno apontamento de um concerto que encantou os presentes e que apenas pecou pela curta duração. 

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Instantes da vida e... da morte


Palermo Shooting, o novo filme de Wim Wenders, teve estreia nacional, ontem, no Rivoli, integrado na 19.ª Semana dos Realizadores do Fantasporto.
O próprio realizador alemão apresentou a obra, sendo obviamente ambíguo, brincalhão com as palavras - como aliás o é nos filmes -, enfim, enigmático q.b..
"O filme... sabem onde é, Palermo; sbaem o que se passa, disparos (shooting)", começou por dizer, acrescentando: "Já vi o filme várias vezes em diferentes países e vi muita gente a ser atingida, ou a encolher-se dos disparos". 
"Não se esqueçam que vou estar a observar-vos", despediu-se, depois de dar um conselho: "Se não forem atingidos ou não se encolherem é porque não estão dentro do filme. Têm que entrar no filme".
Entre a vida e a morte, Finn, o fotógrafo profissional interpretado por Campino, balança, estremece, sonha, vive e dispara (a sua máquina), enquanto a morte, representada por Dennis Hopper, o tenta atigir com disparos de setas... inexistentes. Qual flash!
O confronto de shootings, que decorre na cidade italiana de Palermo, não são mais do que a mais uma viagem criada por Wenders numa zona da existência humana que tantas dúvidas levanta e outros tantos cenários encontra.
Como também já nos habituou, o germâncio, que assina o argumento, produção e realização, prima na banda-sonora. Lou Reed (que aparece na tela em forma de espírito), Grinderman (de Nick Cave), Calexico, Portishead, Beirut e Thom Yorke são alguns dos nomes cujas criações compõem o cenário sonoro do filme. Porém, na parte final é clássica a música que se ouve.
Nas duas horas de entre a vida e a morte de Palermo Shooting, Wim Wenders shoots: A vida é para se viver.
É que a morte está ali ao virar da esquina. "Eu faço tudo como se fosse a última vez", sustenta um pastor improvisado, que o é apenas por deleite pessoal, que se cruza com o protagonista, ainda na Alemanha.
A beleza da vida é encarnada pela bela Flávia (Giovanna Mezzogiorno), alguém que compreende Finn e se debate com a morte de uma outra forma. O fresco A Vingança da Morte, numa igreja na cidade portuária onde a acção decorre, é o seu trabalho e que valeu a morte ao antigo namorado. Com ela o fotógrafo faz a viagem pelo purgatório, acabando, no entanto, por se salvar.
A vida é assim... à espera da morte!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

"Quem mas fálias, págalias"



É treta de princípio ao fim... Mas treta que toca em pontos fundamentais do quotidiano dos portugueses. E é com verdadeira conversa da treta que Zezé e Toni abordam problemas que preocupam a todos, ou pelo menos deviam preocupar.
Em «A Verdadeira Treta», os actores José Pedro Gomes e António Feio brilham ao mais alto nível, aliás como já tinham habituado o público nos outros espectáculos e filme em que as personagens Zezé e Toni se mostraram ao Mundo.
A conversa entre as duas personagens é de uma riqueza fabulosa, com trocadilhos simples e subtis, mas de uma inteligência incrível, nunca caindo na piada fácil do sexo, ou do palavrão. Aliás, palavrões é algo que em quase duas horas de espectáculo não se ouve, nem sequer se deduz. Já referências ao sexo são de um brilhantismo assombroso, como quando Toni exulta com o facto de "molhar o pão na molhonga", referindo-se a um qualquer prato culinário à espanhola, enquanto Zezé falava de "Nereida, a espanhola".
Aliás, a conversa de surdos é frequente, com uma personagem a falar de alhos e a outra de bugalhos.
O dia-a-dia deste cantinho à beira-mar plantado é o «leit-motiv» de toda a conversação entre as duas personagens, desde a ASAE - "se a ASAE investigasse a ASAE, fechava a ASAE" -, professores versus Ministério da Educação - "se apanhava a ministra dava-lhe um chapadão" -, a crise na mesma Educação - "dantes os professores é que batiam nos alunos", recordando a antiga professora Camélias... -, ou ainda a temática do Ambiente.
"Reclicagem?"... "Se não te mexeres já ajudas o Ambiente, Zezé", diz Toni.
As "energias alternativicas" foram bastante abordadas por Zezé e Toni, que explicaram aos presentes que "as ventoinhas" que estão espalhadas pelo País servem para "arrefecer as auto-estradas", daí o nome do concessionário das mesmas: Brisa. Brilhante!
O público que quase lotou o Coliseu do Porto deliciava-se com a sucessão de dislates proferidos por Toni e Zezé, alguns que não o são assim tanto, mas também pela representação. As duas personagens, dois verdadeiros cromos deste Portugal, têm pequenos gestos que provocam gargalhadas incontroláveis na plateia. Pessoalmente, dei por mim muitas vezes a verter lágrimas... Extraordinário.
«A Verdadeira Treta», tal como as anteriores aparições de Zezé e Toni, vive muito dos pontapés na gramática e no vocabulário. Brincar com a língua como estas duas personagens fazem - tal como outro duo explora esse manancial de forma exemplar, como é a dupla que apresenta o «Tele Rural», na RTP1, Quim Roscas e Zeca Estancionâncio - é algo de estupendo, revelando toda a riqueza, não só da língua, mas igualmente do povo que lhe dá alma.
Atropelar a Língua de Camões como a dupla o faz conduz apenas a um único lugar: à gargalhada!
Até porque como Zezé notou: "Quem mas fálias, págalias!".
Assistir ao tratamento que eles dão à Língua, referindo-se, por exemplo, ao "desacordo ortográfico", que rapidamente passou a ser "desacordo ortopédico", simplesmente porque cortam os Pês (pés), como fizeram ao Batista, foi brilhante...
«A Verdadeira Treta» são quase duas horas de disparates, trocadilhos e mal-entendidos que mantêm o espectador em estado de gargalhada permanente. 
Fotos de Luís Rocha Graça     

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

We are the Kaiser Chiefs

Foto: Luís Rocha Graça

Os britânicos Kaiser Chiefs são, de facto, um portento em palco.
Ao vivo a banda transfigura-se e agiganta-se de tal maneira que o público é automaticamente contagiado pela energia, não só dos temas, mas também pela atitude do vocalista Ricky Wilson.
Na estreia em nome próprio em palcos nacionais, no passado sábado perante um Coliseu do Porto particamente cheio, os Kaiser Chiefs confirmaram tudo o que os portugueses já sabiam e tinham visto deles nos festivais por onde passaram em Portugal.
A forma efusiva com que os nortenhos receberam os ingleses provou que o quinteto tem uma vasta legião de fãs entre nós e ele soube corresponder.
«Everyday I love you less and less», o segundo tema da noite e um dos hits do álbum de estreia da banda, levou a plateia ao rubro, com Ricky Wilson - um verdadeiro animal de palco - a liderar as hostes, de ambos os lados do palco.
Conquistado o público, os Kaiser Chiefs, fruto de um alinhamento bem construído e recorrendo a todo o repertório da banda, compilado em três álbuns - «Employment (2005), «Yours Truly, Angry Mob» (2007) e o recente «Off With Your Heads» (Outubro de 2008), razão desta passagem pelo nosso País -, mantiveram o Coliseu em alta temperatura durante a quase hora e meia em que actuaram.
Com os temas mais roqueiros os Kaiser Chiefs conseguem tornar a coisa bastante estimulante e Ricky Wilson contagia o público de uma forma impressionante, não só pela energia das canções, mas igualmente pela própria, que parece inesgotável. Porém, houve momentos no concerto bastante «lights», fruto das canções mais (brit)pop do colectivo de Leeds.  
«Ruby», «Good days, bad days», «Na Na Na Na Naa», «Angry Mob», «Never miss a beat» e «I predict a riot» foram alguns dos temas que levaram o público ao delírio total.
Aliás, a empatia entre os dois lados do palco foi de perfeita loucura em diversas ocasiões, com o público, por vezes incentivado por Ricky Wilson, outras não, a cantar desalmadamente, colorindo ainda mais os excitantes e apoteóticos momentos do concerto.
Verdadeiramente extasiante foi a altura em que o vocalista saiu do palco e subiu para a tribuna, com a banda a interpretar «Take my temperature». E diga-se que a temperatura, no Coliseu, em geral, e em cada corpo presente no mesmo, em particular, era elevadíssima e até mesmo delirante. Contagiado por dois jovens, em tronco nu, que mergulharam da tribuna na massa humana das primeiras filas da plateia, Ricky Wilson imitou-os e num «tribuna diving» destemidofez ainda um pouco de «crowd surfing» até ao palco, que levou o público ao desvario total. 
Foi o clímax de uma noite que teve ainda no tema que fechou o concerto, «Oh my God», a despedida ideal, com público e banda em pefeita sintonia e apoteose.
Ricky Wilson, Andrew Whitey (guitarra), Nick Peanut (teclados), Simon Rix (baixo) e Nick Hodgson (bateria) estão de parabéns pelos momentos fantásticos que proporcionaram ao público presente no Coliseu do Porto.
Bem, no final Nick Hodgson, dirigindo-se à plateia, afirmou: "Vocês foram o melhor público que encontrámos até hoje nesta digressão". Sintomático.


quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Apetece-me escarrar neste País


Bendita doença a que me atacou nos primeiros dias do novo ano! Bendita seja!
À sua conta ando, desde então, com farta libertação de expectoração. E, sim, apetece-me escarrar neste País.
Convocado por carta registada para comparecer hoje, pelas 15h00, no Centro de Emprego, qual não é o meu espanto quando tomo conhecimento da razão da minha convocatória. Porque não me apresentei na Junta de Freguesia no dia 17 de Novembro, data limite da convocatória, mas apenas no dia seguinte, fui chamado ao Centro de Emprego para me ser entregue uma ADVERTÊNCIA POR ESCRITO.
Mas que País é este? "Não me leve a mal", comecei por dizer à funcionária, "mas vocês chamaram-me aqui, simplesmente, para me entregarem uma advertência por escrito, não para me propor um emprego?".
Então não me tinham enviado logo a advertência em carta registada, em vez da convocatória?! Por isso, apetece-me escarrar neste País.
Já não basta ter que fazer apresentações periódicas na Junta de Freguesia, qual criminoso que tem que se deslocar frequentemente aos postos policiais. Enquanto isso, quem, à má-fé, me colocou nesta situação e me deve muito dinheiro, anda(m) por aí a assobiar para o lado, sem que ninguém lhe(s) deite a mão, sem que ninguém faça nada. Esse(s) não eram apresentações periódicas em lado nenhum. O lugar dele(s), à quantidade de falcatruas, é na cadeia. Mas não. O nosso País persegue quem não tem poder, dinheiro e influência. Por isso, apetece-me escarrar neste País.
Questionei, então, a funcionária da possibilidade de fazer formação. "Sabe, as nossas formações não são para licenciados", respondeu.
Não posso fazer formação pelo Centro de Emprego, porque tenho estudos; não estou abrangido por uma data de incentivos ao emprego, porque não sou desempregado de longa-duração, já tenho 40 anos e 15 de profissão para poder ser estagiário ou candidato a um primeiro emprego e já tenho 40 anos e não 45, como exige um dos requisitos desses mesmos incentivos.
Que raio de País é este?...
Ah, e mais um atraso e sou excluído do lote dos que recebem a prestação social.
Apetece-me escarrar neste País!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Até sempre, Aguardela


A música portuguesa está mais pobre. Com a morte prematura de João Aguardela, aos 39 anos (fazia 40 em Fevereiro) o País vê desaparecer um músico que muito contibuiu para a afirmação da música portuguesa.
Em projectos como os Sitiados, Megafone, Linha da Frente, ou mais recentemente A Naifa, Aguardela colocou toda a sua mestria de compositor ao serviço da música.
Recordo o concerto d'A Naifa, no ano passado, no Theatro Circo, em Braga, como algo de deslumbrante e magnífico.
Mais palavras para quê, era um artista português, que cantava a portugalidade como poucos.
Até sempre, Aguardela!

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Para cada som há uma imagem



Três noites, quatro espectáculos de lotação esgotada.
Local: TeCA - Teatro Carlos Alberto (Porto). Dias: 8, 9 e 10 de Janeiro de 2008. Espectáculo: Zoetrope. Intérpretes: Rui Horta feat. Micro Audio Waves.
Sábado à noite, 23h30, segunda sessão de Zoetrope, no TeCA. C. Morg está no meio do palco, teclado à frente, pose imóvel, olhar no infinito. Tinha sido dado início à contagem decrescente, bem visível nos três écrans que contornam o palco, dos nove minutos que dura o interlúdio que cria o ambiente de recepção ao público. Paulatinamente, a luminosidade na sala vai ficando reduzida até à quase escuridão, à medida que os demais artistas entram em cena. Com a plateia repleta e as portas de acesso à sala fechadas, em palco estão C. Morg, ladeado por Francisco Rebelo (baixo) e Flak (guitarra e teclados) quando se dá uma explosão de som e luz branca direccionada ao público. Há quem estremeça na cadeira!...
O Zoetrope começava a funcionar. O espectáculo estava lançado.
Zoetrope nasce da união de esforços entre Rui Horta, responsável pelo trabalho de conceptualização do espectáculo, ao mesmo tempo que dirige a iluminação e a produção multimédia, e os Micro Audio Waves (MAW).
Zoetrope é um título que apela para o movimento, e este é um espectáculo que movimenta. Da fabulosa, mais uma, criação musical dos MAW, junta-se-lhe um espectáculo multimédia, repleto de cor e luz, manipulado ao vivo e de grande interacção com o público. As flashadas luminosas, autênticas descargas de luz, iam alertando a plateia que era real o que à sua frente se passava.
Em Zoetrope surge mais um punhado de grandes temas. Impregnados de ADN da banda, trazem algo de novo à sonoridade dos MAW. Momentos de fantasia e outros de exaltação podem ser experimentados, num espectáculo em que o movimento é uma constante. Para cada som há uma imagem.
«Electric storm», «Cartoon real», «Hubble to Bubble», «Sunshine Sunlight», «Spooky», «Walk in line», «Dave», «Speeding ball», « Belém», «Statement» e «Uncanny» são os novos temas que compõem a banda-sonora de Zoetrope.
"Estamos a trabalhar sobre a ideia de zoetrope, a máquina que consegue animar movimento. As imagens sucedem-se, começam a acelerar até à velocidade de 24 frames por segundo e, de repente, as imagens seccionadas transformam-se numa imagem em movimento", referiu antes da estreia Rui Horta sobre o espectáculo que estreou no Porto, já que em Moscovo a actuação foi mais estilo concerto, com paragens entre temas, o que não aconteceu na Invicta. 
«Long tongue», que valeu a Cláudia Efe, Flak e C. Morg (mais) um Qwartz Award em 2008, é a única peça antiga colocada em Zoetrope. Fecha o espectáculo de uma forma elegante, melodiosa... linda. A tranquilidade do tema extravaza os cânones da beleza. A limpidez sonora, aliada à intervenção multimédia e luminosa, torna o momento raro do ponto de vista estético.
Extraordinário! Ao longo do concerto, nos três écrans eram projectadas imagens manipuladas ao vivo, sob direcção de Rui Horta, também encarregue das luzes. Gravadas ou captadas no momento por Cláudia Efe através de uma pequeníssima câmara, levando dessa forma também o público para o palco, para cada som há uma imagem.
O quarto espectáculo foi uma sessão extra, tal a procura para as três anteriores exibições. Mas quem assistiu deu por bem empregue o tempo. A banda mostrou-se segura, consistente e criativa como sempre, partilhando o sentimento de satisfação por uma actuação mais bem conseguida do que uma das outras anteriores.
A voz dos Micro Audio Waves tem neste Zoetrope um papel fundamental pelas exigências cénicas do espectáculo. Sempre deslumbrante, qual pluma esvoaçante, Cláudia sobrevoa o palco como se de uma das projecções se tratasse.
O lote de novos temas - que (ao que parece) não vão dar um álbum, mas um DVD a ser gravado na próxima exibição que acontece, dia 19 de Fevereiro, na Culturgest, em Lisboa - é mais um passo em frente na criação dos Micro Audio Waves. A banda volta a superar-se.
Por tudo isto, é um espectáculo a não perder. Dia 28 vou tentar ver novamente no Centro Cultural Vila Flor, nessa maravilhosa cidade do Minho devoto de nome Guimarães.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Jandek by Jandek


Quarenta dias volvidos e já no último ano da primeira década do século XXI, dou-me nova oportunidade, passadas quatro dezenas de dias de incerteza e um certo desânimo.
Ao som de «Death», dos White Lies, cujo álbum nunca mais chega - tem o dia 2 de Março como data de edição em Portugal -, discorro esta prosa, que mais não é do que mais uma tentativa para me manter vivo e com esperança no que aí vem.
Devo igualmente agradecer a Jandek, esse misterioso músico norte-americano que se estreou em Portugal no passado sábado, num concerto que marcou o início das comemorações dos 20 anos da Fundação de Serralves e os 10 anos do respectivo Museu.
Jandek teve o condão de atrair uma massa humana que lotou por completo o Auditório de Serralves, mas cedo pairou no ar a desilusão para muitos dos presentes. O concerto que se iniciou com sala cheia, terminou cerca de hora e meia depois com pouco mais de metade dos lugares ocupados.
É caso para perguntar a quem se levantou do que é que estava à espera, pois juntamente com a atraente sinopse biográfica do artista ("é a estreia em Portugal de um dos mais fascinantes e enigmáticos músicos contemporâneos, e uma das poucas oportunidades de ver uma apresentação ao vivo deste norte-americano do Texas, que raramente faz concertos ou dá entrevistas"), a informação era exacta: "Em Serralves, apresentar-se-á sozinho em palco, ao piano".
É certo que dos dois trechos interpretados por Jandek, o primeiro não era uma história feliz. Não, longe disso. O segundo já prepassava alguma esperança, mas o primeiro, e mais longo, não.
De facto, não é uma história feliz a que Jandek, em diálogo com o teclado, a única ebúrnea imagem que se vislumbrava em palco, narrou, em primeiro lugar, em Serralves.
Tons soturnos, melodias melancólias, a roçarem o depressivo, criando estados de alma tão díspares quantas as sensações transmitidas pelo pianista. Houve raiva, desilusão, alegria (fugaz), humor negro e uma variedade imensa de lugares, em tudo diferentes, que o público visitou pela(s) mão(s) de Jandek.
O texano entrou mudo e saiu calado. Num palco pouco iluminado, Jandek entrou com passo seguro, enquanto colocava o chapéu na cabeça. Sentou-se ao piano, tirou o relógio, que colocou sobre o piano, e desfiou duas peças, num concerto que foi um recital de piano, em que Jandek interpretou Jandek. 
Misterioso? Sem dúvida, nem a cara lhe vi. Consegui ver-lhe o rosto já noite dentro no hall do Passos Manuel de onde, diga-se, o norte-americano não passou. Vá-se lá saber porquê?!... Quando se é estranho e misterioso, é-se até ao fim.
Musicalmente, eu estava com o estado de alma certo para ouvir Jandek num registo tão erudito. Por isso, mais do que gostar, soube-me bem ouvir Jandek desfrutar do piano. Entre momentos de melodia e lucidez, Jandek ofereceu experimentalismo e improviso q.b. numa sucessão bastante lógica de acontecimentos, em que os estados de alma (sempre eles!) variaram consoante o tom, o ritmo e a disposição.
Sou sincero: não sei se o iria ouvir outra vez, mas guardo o que ouvi naquele canto do sótão em que estão as boas memórias...