terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Para cada som há uma imagem



Três noites, quatro espectáculos de lotação esgotada.
Local: TeCA - Teatro Carlos Alberto (Porto). Dias: 8, 9 e 10 de Janeiro de 2008. Espectáculo: Zoetrope. Intérpretes: Rui Horta feat. Micro Audio Waves.
Sábado à noite, 23h30, segunda sessão de Zoetrope, no TeCA. C. Morg está no meio do palco, teclado à frente, pose imóvel, olhar no infinito. Tinha sido dado início à contagem decrescente, bem visível nos três écrans que contornam o palco, dos nove minutos que dura o interlúdio que cria o ambiente de recepção ao público. Paulatinamente, a luminosidade na sala vai ficando reduzida até à quase escuridão, à medida que os demais artistas entram em cena. Com a plateia repleta e as portas de acesso à sala fechadas, em palco estão C. Morg, ladeado por Francisco Rebelo (baixo) e Flak (guitarra e teclados) quando se dá uma explosão de som e luz branca direccionada ao público. Há quem estremeça na cadeira!...
O Zoetrope começava a funcionar. O espectáculo estava lançado.
Zoetrope nasce da união de esforços entre Rui Horta, responsável pelo trabalho de conceptualização do espectáculo, ao mesmo tempo que dirige a iluminação e a produção multimédia, e os Micro Audio Waves (MAW).
Zoetrope é um título que apela para o movimento, e este é um espectáculo que movimenta. Da fabulosa, mais uma, criação musical dos MAW, junta-se-lhe um espectáculo multimédia, repleto de cor e luz, manipulado ao vivo e de grande interacção com o público. As flashadas luminosas, autênticas descargas de luz, iam alertando a plateia que era real o que à sua frente se passava.
Em Zoetrope surge mais um punhado de grandes temas. Impregnados de ADN da banda, trazem algo de novo à sonoridade dos MAW. Momentos de fantasia e outros de exaltação podem ser experimentados, num espectáculo em que o movimento é uma constante. Para cada som há uma imagem.
«Electric storm», «Cartoon real», «Hubble to Bubble», «Sunshine Sunlight», «Spooky», «Walk in line», «Dave», «Speeding ball», « Belém», «Statement» e «Uncanny» são os novos temas que compõem a banda-sonora de Zoetrope.
"Estamos a trabalhar sobre a ideia de zoetrope, a máquina que consegue animar movimento. As imagens sucedem-se, começam a acelerar até à velocidade de 24 frames por segundo e, de repente, as imagens seccionadas transformam-se numa imagem em movimento", referiu antes da estreia Rui Horta sobre o espectáculo que estreou no Porto, já que em Moscovo a actuação foi mais estilo concerto, com paragens entre temas, o que não aconteceu na Invicta. 
«Long tongue», que valeu a Cláudia Efe, Flak e C. Morg (mais) um Qwartz Award em 2008, é a única peça antiga colocada em Zoetrope. Fecha o espectáculo de uma forma elegante, melodiosa... linda. A tranquilidade do tema extravaza os cânones da beleza. A limpidez sonora, aliada à intervenção multimédia e luminosa, torna o momento raro do ponto de vista estético.
Extraordinário! Ao longo do concerto, nos três écrans eram projectadas imagens manipuladas ao vivo, sob direcção de Rui Horta, também encarregue das luzes. Gravadas ou captadas no momento por Cláudia Efe através de uma pequeníssima câmara, levando dessa forma também o público para o palco, para cada som há uma imagem.
O quarto espectáculo foi uma sessão extra, tal a procura para as três anteriores exibições. Mas quem assistiu deu por bem empregue o tempo. A banda mostrou-se segura, consistente e criativa como sempre, partilhando o sentimento de satisfação por uma actuação mais bem conseguida do que uma das outras anteriores.
A voz dos Micro Audio Waves tem neste Zoetrope um papel fundamental pelas exigências cénicas do espectáculo. Sempre deslumbrante, qual pluma esvoaçante, Cláudia sobrevoa o palco como se de uma das projecções se tratasse.
O lote de novos temas - que (ao que parece) não vão dar um álbum, mas um DVD a ser gravado na próxima exibição que acontece, dia 19 de Fevereiro, na Culturgest, em Lisboa - é mais um passo em frente na criação dos Micro Audio Waves. A banda volta a superar-se.
Por tudo isto, é um espectáculo a não perder. Dia 28 vou tentar ver novamente no Centro Cultural Vila Flor, nessa maravilhosa cidade do Minho devoto de nome Guimarães.

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