quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

"Quem mas fálias, págalias"



É treta de princípio ao fim... Mas treta que toca em pontos fundamentais do quotidiano dos portugueses. E é com verdadeira conversa da treta que Zezé e Toni abordam problemas que preocupam a todos, ou pelo menos deviam preocupar.
Em «A Verdadeira Treta», os actores José Pedro Gomes e António Feio brilham ao mais alto nível, aliás como já tinham habituado o público nos outros espectáculos e filme em que as personagens Zezé e Toni se mostraram ao Mundo.
A conversa entre as duas personagens é de uma riqueza fabulosa, com trocadilhos simples e subtis, mas de uma inteligência incrível, nunca caindo na piada fácil do sexo, ou do palavrão. Aliás, palavrões é algo que em quase duas horas de espectáculo não se ouve, nem sequer se deduz. Já referências ao sexo são de um brilhantismo assombroso, como quando Toni exulta com o facto de "molhar o pão na molhonga", referindo-se a um qualquer prato culinário à espanhola, enquanto Zezé falava de "Nereida, a espanhola".
Aliás, a conversa de surdos é frequente, com uma personagem a falar de alhos e a outra de bugalhos.
O dia-a-dia deste cantinho à beira-mar plantado é o «leit-motiv» de toda a conversação entre as duas personagens, desde a ASAE - "se a ASAE investigasse a ASAE, fechava a ASAE" -, professores versus Ministério da Educação - "se apanhava a ministra dava-lhe um chapadão" -, a crise na mesma Educação - "dantes os professores é que batiam nos alunos", recordando a antiga professora Camélias... -, ou ainda a temática do Ambiente.
"Reclicagem?"... "Se não te mexeres já ajudas o Ambiente, Zezé", diz Toni.
As "energias alternativicas" foram bastante abordadas por Zezé e Toni, que explicaram aos presentes que "as ventoinhas" que estão espalhadas pelo País servem para "arrefecer as auto-estradas", daí o nome do concessionário das mesmas: Brisa. Brilhante!
O público que quase lotou o Coliseu do Porto deliciava-se com a sucessão de dislates proferidos por Toni e Zezé, alguns que não o são assim tanto, mas também pela representação. As duas personagens, dois verdadeiros cromos deste Portugal, têm pequenos gestos que provocam gargalhadas incontroláveis na plateia. Pessoalmente, dei por mim muitas vezes a verter lágrimas... Extraordinário.
«A Verdadeira Treta», tal como as anteriores aparições de Zezé e Toni, vive muito dos pontapés na gramática e no vocabulário. Brincar com a língua como estas duas personagens fazem - tal como outro duo explora esse manancial de forma exemplar, como é a dupla que apresenta o «Tele Rural», na RTP1, Quim Roscas e Zeca Estancionâncio - é algo de estupendo, revelando toda a riqueza, não só da língua, mas igualmente do povo que lhe dá alma.
Atropelar a Língua de Camões como a dupla o faz conduz apenas a um único lugar: à gargalhada!
Até porque como Zezé notou: "Quem mas fálias, págalias!".
Assistir ao tratamento que eles dão à Língua, referindo-se, por exemplo, ao "desacordo ortográfico", que rapidamente passou a ser "desacordo ortopédico", simplesmente porque cortam os Pês (pés), como fizeram ao Batista, foi brilhante...
«A Verdadeira Treta» são quase duas horas de disparates, trocadilhos e mal-entendidos que mantêm o espectador em estado de gargalhada permanente. 
Fotos de Luís Rocha Graça     

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