terça-feira, 19 de maio de 2009

A rara beleza de Antony Hegarty

Foi um Antony Hegarty extraordinariamente bem-disposto e conversador o que ontem esteve em palco no Coliseu do Porto. O mote era a apresentação do seu último trabalho discográfico, «The Crying Light», pelo que se fez acompanhar, como habitualmente, pelos The Johnsons.
A sala da Invicta abarrotava pelas costuras de um público já rendido mesmo antes de se ouvirem os primeiros acordes. O desenrolar do concerto acabou por mostrar um Antony também ele rendido ao público portuense - ou português, pois este foi o terceiro concerto que deu em quatro dias entre nós -, parando amiúde a actuação para, simplesmente conversar com o público. Apaixonou-se mesmo, quando num momento de silêncio de um dos temas alguém gritou do Balcão. "Eu estava a apaixonar-me [recordava a letra da canção] e apaixonei-me por vocês", explicou no final da canção.
Os gritos de agrado lançados da plateia eram frequentes e isso, via-se, mexia com o músico, que permaneceu sempre sentado ao piano.
Do novo trabalho ouviram-se a maioria dos temas, como «Her eyes are underneath the ground», «Kiss My name», «The crying light», «Epelepsy is dancing»«Aeon», entre outros, mas igualmente algumas pérolas dos álbuns anteriores, «I Am A Bird Now», como «Fistful of love», «Hope there's someone» e «Another world», entre outras.
O público adorava os momentos musicais, os momentos de descontracção de Antony em palco, que perguntava como estava a cidade e dissertava sobre obrigações cívicas, actrescentando ainda depositar muita esperança em Obama, apesar deste estar sobre grande pressão e ter um mundo em falência nas mãos... Mesmo assim, Antony ainda fez um reapro ao presidente dos Estados Unidos: "Fiquei muito triste quando ele na semana passada decidiu não revelar as fotos da tortura", afirmou.
Antes de «Hope mountain», que conta a história do regresso de Jesus Cristo em versão feminina, Antony explicou que abandonou a igreja católica por não se sentir aceite nas suas opções de vida...
Mas a descontracção de Antony era tal que não só se deu ao improviso, como repetiu várias vezes o final de uma das canções, tal era o gozo que o mesmo lhe estava a dar.
O espectáculo começou com uma bailarina sozinha em palco, fazendo-se passar por um pássaro e por um cavalo, num dos momentos visualmente mais belos... Porque depois a vocalização de Antony e a cama sonora que os The Johnsons lhe oferecem são momentos de constante e rara beleza. A maviosidade da voz e a composição doce, delicada e meiga das canções remetem para um universo deleitoso, onde o belo impera.
Um extraordinário concerto, em que (repito) o belo inundou um Coliseu do Porto, que se despediu do britânico com uma tremenda ovação de pé.

1 comentário:

Lou Marciano James disse...

Salve!
Antony Hegarty tem uma das mais belas obras da música contemporânea.
E, se vc o viu ao vivo, considere-se um privilegiado.
Abçs.