(Artigo de opinião escrito e publicado a 28 de Abril de 2004, em O Primeiro de Janeiro, evocando os 30 anos da Revolução de 25 de Abril de 1974 e mais uma celebração do 1.º de Maio)
A propósito
do dia 1 de Maio, há dias um colega, um pouco mais novo do que eu, dizia-me que
esta data, tal qual a da Revolução de Abril, tende inexoravelmente a deixar de
ser evocada e a deixar de fazer sentido.
É, sem
dúvida, sintomático da realidade que perpassa os nossos dias e os nossos jovens…
Imagino o que será nos ainda mais jovens!
Reconheço
que o fulgor idealista que se viveu no pós-Revolução não possa hoje ser o mesmo
e que ainda será muito menor quando as gerações que consciente e activamente
viveram e fizeram esses dias desaparecerem. É o mesmo que se passa com o 5 de
Outubro, o 1 de Dezembro e tantas outras datas que os anos e os séculos
apagaram. Se repararmos, nem as datas religiosas resistiram à erosão do tempo,
pois actualmente o Natal, a Páscoa e até o 13 de Maio (tão português!) não
passam de manifestações pagãs, onde o capitalismo comercial se instalou, qual vírus
letal em corpo indefeso e desprevenido.
Mas recuso
submeter-me à ideia de que, só porque os anos passam, as memórias se esvaem e os
ideais morrem.
Por falar em
ideais, sempre achei que o que faltou aos da minha criação foi um ideal pelo qual lutar. Gerações posteriores à minha encontraram no Ensino a sua luta e o seu argumento
para darem largas à rebeldia própria da juventude e que, quer se goste quer
não, faz a coisa andar para a frente. As anteriores à minha tinham a ditadura
para combater. E diga-se, que propósito tão nobre… Lutar pela dignidade humana,
pelo respeito e pela liberdade…
Talvez por
ter tido um contacto tão próximo com pessoas que sentiram na pele a falta de
liberdade dê tão grande valor ao que foi o 25 de Abril e ao que é a celebração
do Primeiro de Maio.
É tão só um
dia dedicado a esse ser, que também sou, que faz da força do seu trabalho (mental
e/ou física) o seu sustento e dos seus, o motor do desenvolvimento de um País,
a base de uma sociedade que deveria tratar por igual todos os seus elementos. É
tão só um dia como o da Mãe, ou do Pai, que evocam as pessoas mais importantes
da vida de todos e de cada um, ou não tivessem sido eles que nos conceberam.
Por isso, em tempo de ataque cerrado aos direitos do trabalhador, exulte-se
e celebre-se as conquistas conseguidas em prol dos mais desfavorecidos, evolua-se
para que não seja preciso sentir-lhes a falta (novamente) e ser necessário
fazer-se novas revoluções.
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