Sou um hedonista. E o ano de 2013 mostrou-me
que é assim que sou feliz. Sempre fui um hedonista, em que o amanhã e mesmo o
além de amanhã (como se diz na minha terra) pouco importam, ou pelo menos
importam muito menos do que o hoje e o agora.
Sou de uma geração sem causas, sem grandes
ideais pelos quais lutar. Uma geração que viveu a balbúrdia da transição da
ditadura para a democracia, a abertura do País às duas faces da moeda que o
Mundo nos podia oferecer. É a vida!... Por isso, desfrutar o dia-a-dia sempre me
pareceu o mais inteligente. Não olhar para a vida como um tempo de
sobrevivência, mas como momentos de vivência, de experiência e, muito
importante, de felicidade!...
Confirmar que sou um filho do hedonismo é o
primeiro pensamento que me surge ao olhar para o defunto ano de 2013, em que a
minha vida, como todas as vidas e como em todos os anos, sofreu várias vicissitudes.
Mas também o que é a vida sem vicissitudes, idiossincrasias e coisas do género?
Há uma natural tendência para sobrevalorizar
os maus momentos e ficar-se apenas pela deliciosa nostalgia dos bons…
Por momentos, em 2013, vi-me paraplégico,
capaz apenas de me movimentar através de uma cadeira de rodas, uma imagem de futuro
angustiante e muito nebulosa. E, talvez por isso, nunca valorizei muito, talvez
devidamente, aquilo por que estava a passar. Ou melhor, acho que valorizei o
que tinha que valorizar. E
agora passados uns quantos meses, não tenho dúvidas de
que foi a melhor opção. Felizmente o mal passou, a normalidade retornou e
agradeço à angústia ter-me demovido de sofrer por antecipação, o que afinal não
tive ou não estou para já efectivamente a ter que sofrer. Correu bem!...
O hedonismo paga-se caro, dizem, mas que
fazer… O que não nos mata fortalece-nos e o que vivemos é sempre grandioso,
temos apenas que criar a nossa escala. Depois é algo que fica dentro de nós.
Por vezes no corpinho, cá tenho as minhas «cicatrizes» na medula, outras, e
essas sempre e bem mais valiosas, as da alma.
Ao olhar para 2013 apraz-me muito mais
pensar que são, de facto, os sonhos que nos fazem viver, porque sem eles
simplesmente sobrevivemos. O pior dos cenários que a doença me podia trazer é
em muito suplantado pela alegria de ter voltado a pisar um palco, oferecer a
minha música, mais as minhas palavras, e a minha interpretação. Para além de foi
um ano em que projectei um futuro musical que estou confiante 2014 vai acolher
com agrado. Aguardem-nos, fuckers!...
A doença devia levar-te a mudar de vida,
dizem-me! O médico, salvaguardando não ser “muito dessas coisas”, disse-me no momento
da alta
que o episódio que vivi me “terá tornado mais maduro”. A minha moça,
amor da minha vida, acha que deve tornar-me “mais responsável e maduro”. Eu
acho que o sou, atendendo a todas as circunstâncias, responsabilidades e anos
que levo pendurado na árvore da vida!
Se não fosse como sou e se a doença tivesse
dado para o torto, não poderia usufruir no futuro, não teria usufruído no
passado e o presente seria um enorme um ponto de interrogação!... Não é que a
vida não o seja sempre, mas sê-lo-ia numa cadeira de rodas, o que, pela pouca
experiência que tive, torna tudo mais complicado… ainda!
O defunto ano de 2013 serviu-me,
essencialmente, para confirmar a fragilidade humana em toda a sua plenitude. Vi
e senti como tudo isto é débil, como um simples sopro da própria vida é capaz
de desfazer uma pessoa. E vi e senti como o sonho é mais forte e nos leva a
patamares superiores em cada dia que estamos vivos e, de preferência,
saudáveis!...
Quero e recordo 2013 como algo que me deve
fazer continuar a usufruir da vida, porque de hoje para amanhã sabe-se lá em
que estado estamos.
O meu parceiro de quarto no hospital estava
constantemente a suspirar: “Ao
que nós chegámos…”!
Não me importo de com 88 anos, como ele,
suspirar o mesmo, mas quero fazê-lo de alma cheia, com um espírito ainda voraz
e uma vontade imensa de enganar a morte e a desgraça e continuar a abraçar a
vida… agitada, confusa, brilhante, por vezes ofuscante, mas sempre bela.
Ah, e obviamente, 2013 trouxe-me a
confirmação plena de algo de que nunca desconfiei: tenho, de facto, muitos e
bons amigos! Também, até
agora é para o que tenho vivido, para fazer amigos e
esses são o melhor que
a vida tem e nos dá. Porque o resto, tipo filhos e
assim, somos nós que os arranjamos!... Quer dizer, por vezes também no-los
arranjam, mas faz parte da vida!
Isto é apenas uma breve consideração sobre
365 dias que já passaram, sem qualquer tipo de nostalgia ou sentimento antagónico.
Foi mais um ano que passou e o que espero do novo ano é poder continuar a
desfrutar de todos e cada dia que a vida me proporciona sempre que acordo de
manhã, de preferência… tarde!...
E agora, roda no ar e à voz de siga, siga.
SIGA!...