Foi um Antony Hegarty extraordinariamente bem-disposto e conversador o que ontem esteve em palco no Coliseu do Porto. O mote era a apresentação do seu último trabalho discográfico, «The Crying Light», pelo que se fez acompanhar, como habitualmente, pelos The Johnsons.A sala da Invicta abarrotava pelas costuras de um público já rendido mesmo antes de se ouvirem os primeiros acordes. O desenrolar do concerto acabou por mostrar um Antony também ele rendido ao público portuense - ou português, pois este foi o terceiro concerto que deu em quatro dias entre nós -, parando amiúde a actuação para, simplesmente conversar com o público. Apaixonou-se mesmo, quando num momento de silêncio de um dos temas alguém gritou do Balcão. "Eu estava a apaixonar-me [recordava a letra da canção] e apaixonei-me por vocês", explicou no final da canção.
Os gritos de agrado lançados da plateia eram frequentes e isso, via-se, mexia com o músico, que permaneceu sempre sentado ao piano.
Do novo trabalho ouviram-se a maioria dos temas, como «Her eyes are underneath the ground», «Kiss My name», «The crying light», «Epelepsy is dancing»«Aeon», entre outros, mas igualmente algumas pérolas dos álbuns anteriores, «I Am A Bird Now», como «Fistful of love», «Hope there's someone» e «Another world», entre outras.
O público adorava os momentos musicais, os momentos de descontracção de Antony em palco, que perguntava como estava a cidade e dissertava sobre obrigações cívicas, actrescentando ainda depositar muita esperança em Obama, apesar deste estar sobre grande pressão e ter um mundo em falência nas mãos... Mesmo assim, Antony ainda fez um reapro ao presidente dos Estados Unidos: "Fiquei muito triste quando ele na semana passada decidiu não revelar as fotos da tortura", afirmou.
Antes de «Hope mountain», que conta a história do regresso de Jesus Cristo em versão feminina, Antony explicou que abandonou a igreja católica por não se sentir aceite nas suas opções de vida...
Mas a descontracção de Antony era tal que não só se deu ao improviso, como repetiu várias vezes o final de uma das canções, tal era o gozo que o mesmo lhe estava a dar.
O espectáculo começou com uma bailarina sozinha em palco, fazendo-se passar por um pássaro e por um cavalo, num dos momentos visualmente mais belos... Porque depois a vocalização de Antony e a cama sonora que os The Johnsons lhe oferecem são momentos de constante e rara beleza. A maviosidade da voz e a composição doce, delicada e meiga das canções remetem para um universo deleitoso, onde o belo impera.
Um extraordinário concerto, em que (repito) o belo inundou um Coliseu do Porto, que se despediu do britânico com uma tremenda ovação de pé.

1 comentário:
Salve!
Antony Hegarty tem uma das mais belas obras da música contemporânea.
E, se vc o viu ao vivo, considere-se um privilegiado.
Abçs.
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