domingo, 23 de novembro de 2008

Uma noite de alma cheia


Noite de alma cheia a que ontem se viveu no Minho. Quando estendi o meu esqueleto sobre a cama era a minha alma que se regozijava pelos momentos que, juntamente com o meu cansado corpo, tinha experienciado horas antes.
No Fórum São Bento Menni, em Barcelos, os Mão Morta começaram a soprar os Ventos Animais que irão varrer Portugal nos próximos tempos. Maldoror, essa sinistra figura do maligno que os Mão Morta resgataram do confins do tempo, não foi suficiente para roubar ao colectivo bracarense a alma rock.
Rebuscando o baú, Adolfo Luxúria Canibal e seus pares presentearam o público, que praticamente lotou a sala onde decorre mais um Subscuta, com diversas pérolas do seu repertório, numa vertigem alucinante a que as suas criações sempre nos proporcionaram.
Num concerto tipo masoquista, o público permaneceu sentado, enquanto ouvia coisas como «E se depois...», «Gnoma», «Amesterdão», «Lisboa», ou "o agora incontornável", como disse Adolfo, «Budapeste». A meio levantei-me, pois é impossível assistir a um concerto de Mão Morta... sentado.
Com a frase "75 anos aos serviço da saúde mental» a dominar o palco, ouvia-se "Tu disseste 'eu também já tive medo. muito medo. recusava-me a abrir a janela, a transpôr o limiar da porta'" (in «Tu Disseste»). A loucura pairava no ar, mas niguém ali estava doido.
Adolfo Luxúria Canibal mostrou estar em grande forma, depois da extraordinária performance em «Maldoror». Dançando como só ele (dançando????), a voz rouca e cavernosa dos Mão Morta precisava apenas de uma plateia agitada à sua frente e não sentada, para que a actuação tivesse chegado ao excelente. Mesmo assim, foi fantástico.
A maior parte dos presentes já tinha saudades de ver a banda em registo rock'n'roll, e os Mão Morta não desiludiram. Talvez um tema apenas para encore e o pessoal teria saído ainda mais satisfeito.
Musicalmente exímios, os Mão Morta estiveram ao seu melhor. Pena o público estar sentado, o que coartou a interacção entre plateia e palco. «Penso que penso» exige mosh à frente do palco... e não houve. Mesmo assim foi uma delícia ver no arranque da digressão «Ventos Animais» uns Mão Morta ao seu melhor...
Findo o concerto em Barcelos, dirigi-me às Taipas (Guimarães), mais concretamente ao Bar N101. Aí, era a vez dos Peixe : Avião tomarem conta do palco e desfiarem os temas do seu recente álbum de estreia «40:02».
Foi uma bela maneira de acabar a noite, pois a prestação deste quinteto sedeado em Braga (quem diria) foi extraordinária. André Covas, Luís Fernandes, Pedro Oliveira, Ronaldo Fonseca e Zé Figueiredo deram um concerto seguro e profissional, perante um N101 cheio. 
A intensidade sonora da banda, em que a voz aguda e, por vezes, electronicamente trabalhada, enche a alma mais distraída, criando um ambiente fabuloso em torno do som debitado do palco.
Temas como «A espera e um arame», «Barro e lama em mão cheia», «Frio bafio», ou «Nortada» foram alguns dos que se ouviram em mais uma apresentação ao vivo de «40:02».


Alinhamento Mão Morta:

Ventos animais
Budapeste
As tetas da alienação
E se depois...
Arrastando o seu cadáver
Tu disseste
É um jogo
Gnoma
Em directo (para a televisão)
Penso que penso
Amesterdão
1º de Novembro
Bercelona
Quero morder-te as mãos
Vamos fugir
Lisboa
Cão da morte

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Cut Copy e Boys Noize... à Clubbing


Foi mais um Clubbing para cativar os estreantes e viciar ainda mais os habitués. As propostas eram demasiado tentadoras para que passassem incólumes. A adesão já se sabia iria ser arrebatadora, pois bilhetes há semanas que já não havia... para venda.
Cut Copy e Boys Noize, duas apostas que se revelaram vencedoras, apesar de algum público ter debandado pós a actuação da banda australiana, ficando muito outros com água na boca à porta da Sala 2, aquando da prestação do deejay alemão. Irremediáveis (e inevitáveis) contigências organizacionais e comerciais.
Mas de volta ao que interessa, a expectativa era grande entre o público para ver os Cut Copy, que em «In Ghost Colours» se esmeraram, tal como na noite anterior na discoteca Lux, em Lisboa. Apesar de algumas críticas de eventual cansaço, o trio, que esteve em palco acompanhado de um baixista, conseguiu alastrar a festa por toda a Sala 2, que o público lotava. A plateia sabia o que queria e os Cut Copy responderam à altura.
Intercalando temas do álbum de estreia com as novíssimas canções de «In Ghost Colours», Dan Withford e companhia levaram a plateia ao rubro, transformando o espaço numa autêntica pista de dança.
Foram muitos os momentos de perfeita sintonia entre a plateia, pejada de um público eufórico, e o palco, onde a banda se entregava ao concerto de peito aberto.
As guitarras entorpecem um pouco o ritmo do concerto, para quem olha para aquilo como uma espécie de «warm up» para uma longa noite de dança, mas a verdade é que a banda teve momentos de excelência.
«Unforgetable season» foi o expoente. Por momentos pareceu-me ouvir o compassado baixo de Peter Hook, a marcada bateria de Stephen Morris e a desfibrilhada guitarra de Bernard Sumner. Foi um momento incrível ao ouvir naquele palco, tocados por uns jovens australianos, alguns dos ingredientes que fizeram a música dos Joy Divison. Acreditem, foi um momento!
Foi em apoteose que os Cut Copy se despediram do público do Porto, tocando apenas um tema no encore, «Hearts on fire», para gáudio da plateia. Que queria mais, mas na CdM os horários são para cumprir.
Seguiu-se o alemão Boys Noize. De som forte e intenso, Alexander Ridha, de seu verdadeiro nome, lançou a bomba da dança na Sala 2, levando os fiéis seguidores, e estavam lá muitos, a uma frenética e incansável dança, polvilhada por momentos de introspecção sonora, catalizada pelo manipulação exímia que o alemão faz do som. Ouviu-se «Weiss, Weiss, Weiss», dos também germânicos Eistürzenda Neubauten - que este ano já passaram pelo Clubbing - e muitas outras coisas, entre o electro e o techno, de que Boys Noize faz os seus gigs. 


Alinhamento Cut Copy:

Nobody lost, Nobody found
Far away
Time stands still
So haunted
Unforgetable season
Strangers in the wind
That was just a dream
Saturdays
Feel the love
Out there on ice
Lights & Music
Future

Hearts on fire

(*)Fotos de François Oliveira

sábado, 15 de novembro de 2008

De Cabo Verde com muito ritmo

Foi uma espécie de estreia pessoal nestas vertentes musicais mais chegadas à chamada Música do Mundo. A verdade é que não me lembro de ter assistido a dois concertos seguidos de artistas que se movimentam naquela área. E não posso dizer que desgostei. A proposta era uma viagem até ao continente africano, mais concretamente ao arquipélago de Cabo Verde, guiados pelas vozes de Carmen Souza e Lura. Curiosamente duas cabo-verdianas… nascidas em Lisboa, após a Revolução de Abril.
Apesar de, definitivamente, não fazer o meu género, o certo é que foi pouco mais de duas horas de agradável entretenimento.
Carmen Souza abriu a noite com os seus funanás, mornas e demais sonoridades tão características de Cabo Verde, mas às quais empresta um toque urbano, que foi muito mais do meu agrado.
«Lapido na bô» serviu para homenagear o mestre Orlando Pantera, com Carmen Souza a dar início de uma empatia com a plateia que teria o seu clímax com Lura.
Os concertos foram transmitidos em directo pela RDP África e tiveram a presença do Cônsul de Cabo Verde na plateia. Apesar de poucos, sempre houve alguns destemidos que contrariaram as rígidas regras da Sala Guilhermina Suggia e de pé ensaiavam uns tímidos passos de dança. Mas foi com o público todo de pé e a dançar que Carmen Souza se despediu, com o funaná «Vaidade ê leviandade».
A sala estava meia cheia e recebeu de braços abertos Lura, um mulherão que se ginga, meneia e dança como só as africanas o sabem, levando a plateia ao delírio. Detentora de uma voz de respeito, Lura levou o público num périplo pelo som de África.
“Isto é uma viagem pelos ritmos de África, pelos ritmos da minha terra de origem”, referiu a determinada altura a cantora, acrescentando: “Sinto-me muito feliz porque canto na minha terra de nascimento (Portugal), a música da minha terra de origem (Cabo Verde)”.
A meio da actuação, Lura descalça-se e leva o público ao rubro, dançando o «Batuku», ritmo das mulheres cabo-verdianas e que a cantora dedicou a todas as mulheres presentes na sala.
Em «Nariná» a plateia surpreendeu Lura, quando esta lhe tentou ensinar a letra e o público, já a sabendo, cantou afinado e em uníssono. O concerto fechou com uma homenagem, mais uma, ao grupo Os Tubarões, com o tema «Mula mansa».
O encore trouxe mais uma morna e, claro, um funaná para que a coisa terminasse em apoteose. E assim foi…


Alinhamento Cármen Souza:

Verdade
Tud tem uma razão
Ind’feso
Codê
Afriká
Tristeza de vida
Levantá no bai
Lapido na bô
Vaidade ê leviandade

Alinhamento Lura:
Intro
Cartinha
Mari d’ascenson
Festa nha kumpadri
Vazulina
Ponciana
As água
Batuku
Narina
M’bem di fora
Mula mansa

Flor di nha sperança
Mundu ê nós

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Matthew Herbert Big Man


Extraordinário!
Matthew Herbert regressou à Casa da Música, desta feita acompanhado pela Big Band, e, mais uma vez, encantou. Acompanhado por 16 músicos – metais, piano, bateria e contrabaixo –, Matthew Herbert imprime um som épico às suas criações, que encontram na voz da portentosa (física e vocalmente) de Eska Mtungwazi a alma que a sonoridade exige e liberta.
A razão de mais esta visita do músico inglês foi a apresentação do seu novo álbum «There's Me and There's You».
Com o tema «Pontificate» foi como que se a felicidade invadisse o palco da Sala Suggia, trazida pela intensa e completa sonoridade da banda, os samplers de Matthew Herbert e a fabulosa capacidade e qualidade vocal de Mtungwazi.
O concerto versou apenas os novos temas, pelo que o público, face à novidade, esteve sempre um pouco na expectativa. Porém, o enorme agrado era ruidosamente demonstrado a cada final.
A maviosidade da beleza das melodias e o caos da orquestrada desconstrução musical enchiam o ambiente para deleite da plateia. Matthew Herbert captava e manipulava os sons em tempo real, provocando em algumas ocasiões o riso em Eska, quando esta tinha que cantar a par da sua voz reproduzida pelos samplers de Herbert.
Em «Battery», todos os músicos – à excepção do contrabaixista e do baterista e ainda do maestro Peter Wraight –, tinham uma revista (Flash!) na sua posse que foram rasgando paulatinamente. O ritmo era, em parte, marcado pelo rasgar sincopado das páginas, com Herbert a captar e a reproduzir os sons produzidos por entre a sonoridade dos diversos instrumentos. Se a felicidade e a alegria já haviam tomado conta do palco há muito, com «Battery» cehgou a diversão, com os músicos a transformarem o palco num campo de batalha, por entre confetis e pequeníssimas serpentinas feitas pelos próprios.
Depois, com «Breathe», chegou o momento de… magia, com Herbert a manipular a maquinaria com um capuz enfiado na cabeça, que não lhe permitia ver absolutamente nada.
Para além da música, o espectáculo acontecia. Matthew Herbert, que ostentava uma espécie de gravata feita de folhas de jornal (onde se podia ler «Millions of dolars burned», porque seria), manipula incessantemente a maquinaria que tem pela frente, ao mesmo tempo que dança e interage com os demais músicos.
Em muitos momentos, o som da banda serve apenas de cama às divagações «samplistas», que não simplistas, do músico britânico, que é exímio em utilizar sons das proveniências mais inesperadas. E fá-lo com uma mestria impressionante, no que é muito bem acompanhado pela (big) banda.

De braço no ar, todos os músicos parece quererem ser o homem que Eska diz estar à espera em «Nonsounds», para o concerto ser rematado com um tema «Just swiing», que ilustra bem o que se ouviu naquela hora de actuação, com Eska a cantar: “Life is just a famous swing”.
O público não arredou pé, e Matthew Herbert e acompanhantes regressaram para pôr toda a gente a dançar. Foi com o público todo de pé e a «swingar» que se ouviu o único tema antigo do concerto, o bem conhecido «Audience», em que um dos sons base é, precisamente, feito em uníssono pelo público e manipulado e reproduzido por Herbert. Foi em festa e em perfeita interacção entre palco e plateia que terminou o espectáculo, com o público a desejar mais, mas… tinha acabado.

Alinhamento:

Pontificate
Waiting
Vessness
Battery
Regina
Rich man's prayer
Breathe
Knowing
Nonsounds
One life
Just swing

Audience


Fotos de Luís Rocha Graça

domingo, 9 de novembro de 2008

Ladytron@CdM


Myra Aroyo
Helen Marnie


Devido a problemas técnico-tecnológicos - prosaicamente, bazarouquice minha - só agora as fotos do concerto dos Ladytron são postadas... A qualidade das fotos não é a melhor, mas também o fotógrafo não o é... mesmo!

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Ladytron sem encantar


O regresso dos Ladytron ao Porto apenas confirmou as suspeitas com que fiquei na sua passagem pelo festival Beat It, que em Setembro passou pelo Palácio de Cristal. A excelência da música do quarteto de Liverpool perde em palco.
Já em Setembro, na primeira vez que os vi e ouvi ao vivo, fiquei com a sensação de que o concerto tinha sido chocho, mas mantive algumas reservas na minha apreciação devido ao local e ao tipo de actuação (inserida num festival). Porém, as minhas suspeitas acabaram por se confirmar ontem à noite, na Casa da Música. A excelência (repito) e potência musical dos Ladytron perde ao vivo. Razões? Pois, essa é a parte difícil de explicar, mas a sensação com que fico é que a postura dos músicos em palco e a perda de alguns pormenores e o tratamento sonoros deixam a desejar, acabando por o concerto perder com tudo isso.
Mesmo assim, os demasiado estáticos Myra Aroyo, Helen Marnie, Reuben Wu e Daniel Hunt, que estiveram acompanhados de um baterista e de um baixista, empenharam-se e ofereceram algumas das suas pérolas musicais.
«Black cat», «Runaway» e «Ghosts» abriram da melhor forma o concerto, seguindo-se então um desfiar de temas dos quatro álbuns já editados, com especial incidência no último registo, «Velocifero».
Myra e Helen, quais viúvas em luto profundo, de vestes negras acetinadas fazendo lembrar épocas e britânicos puritanos, ainda ensaiaram uns passos de dança em alguns temas, mas sempre muito timidamente. Lá atrás, Reuben e Daniel pouco ou nada se movimentavam. É certo que estar a tocar teclados não dá para muita coisa, mas a atitude é muito para que o concerto ganhe um outra alma. No entanto, esta é a escolha dos Ladytron, como podia ser outra, mas com um som melhor a coisa poderia, então funcionar.
«Playgirl», a meio da actuação animou a plateia bastante despida. Não estava meia sala neste regresso dos britânicos a Portugal.
A curta, uma hora, actuação fechou com o extraordinário «Kletva», único tema tocado no brevíssimo regresso o palco.

Alinhamento:

Black cat
Runaway
Ghosts
High rise
True mathematics
Playgirl
Predict the day
Season
Dateline
Deep blue
Fibua
Seventeen

Kletva

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Uma vez mais e... obrigado


Pela terceira vez em 11 meses, Peter Murphy esteve entre nós para mais um concerto a Norte (que foram dois, diga-se), passando antes pelo Coliseu de Lisboa. Depois de, em Novembro de 2007, ter actuado no Pavilhão de Gaia e, em Julho deste ano, no festival Marés Vivas, também em Gaia, ontem foi a vez  do Coliseu do Porto receber este senhor da música.
O próprio Murphy justificou mais esta vinda em tão curto espaço de tempo com a necessidade de dizer "Obrigado" ao público nortenho, que sempre o acolhe como se da primeira vez se tratasse.
De facto, a relação entre o público do Norte de Portugal e o ex-vocalista dos Bauhaus é algo de quase inexplicável, tal a empatia. Com os Bauhaus ou a solo, Peter Murphy é um músico que os portugueses adoptaram como um dos seus principais cultos.
Não fosse a careca que já espreita, ninguém diria que Murphy já ultrapassou a barreira do meio século de vida, tal a sua prestação em palco e qualidade vocal que mantém intocável. Igual a si próprio, contracenando com os diversos focos de luz, ou simplesmente consigo mesmo, o autor de «Should The World Fail to Fall Apart» (1986) entrou em palco sozinho recebeu uma enorme ovação, que agradeceu com aplausos também, e intrepretou sem música «Cool Cool Breeze», mostrando que os anos que passaram pela sua voz lhe conferiram apenas mais maturidade.
Na plateia eram muitos poucos os Sub-30, com a grande maioria a demonstrar ser apreciadora de longa data. O público sabia ao que ia, ninguém (ou poucos) eram estreantes em concertos daquele que foi, em tempos, denominado Padrinho do Gótico (vá-se lá saber porquê, mas são opiniões!), pelo que desde o primeiro tema a química funcionou.
«Burning from the inside» foi a primeira do repertório dos Bauhaus a ouvir-se num Coliseu composto (apresentava pouco mais de meia casa), com os presentes a glosarem do momento dos dois lados do palco. 
Já em camisa, Peter Murphy prossegue a sua singular interpretação, transformando o concerto num agradável espectáculo. «Marlene Dietrich's favourite poem» dá à actuação o toque de intimismo q.b., seguindo-se «Time has got nothing to do with it», com Murphy à viola.
Com o concerto a ganhar ritmo novamente, o inglês tira a camisa e veste o casaco, levando o público (muito feminino) a fazer-se ouvir. «Black stone heart» é a única canção do álbum que pôs fim à carreira dos Bauhaus, «Go Away White» (2008), que interpreta, oferecendo, de seguida, o fantástico «Huvvola», para se retirar, pela primeira vez, com «Idle flow».
O público estava deleitado e exigia o regresso a palco dos músicos. Adivinhavam-se os «hits» pelo quais muito do público estava ali e ansiava. 
Um parêntesis: gostava aqui de reflectir sobre os fãs de Peter Murphy.
Aos indefectíveis desde os tempos de Bauhaus junta-se um público «geração RFM». Estes têm nos «hit singles» dos Anos 90 as suas grandes referências. Alguns têm essas canções como músicas das suas vidas, pelo que num concerto do inglês anseiam desesperadamente por eles e esperando sempre que o músico ofereça uma espécie de «best of... The Singles». Azarinho!...
Sem, no entanto, deixar de lhes fazer um pouco a vontade, Murphy esmerou-se nos dois «encores». Com domínio «bauhauiano», ouviu-se, primeiro «Strange kind of love», com a massa humana a manifestar-se ruidosamente, mas a que o músico, que estava à viola, colou «Bela Lugosi's dead». Uma mistura já apresentada no Marés Vivas e que fica extraordinária. Diga-se que o tema dos Bauhaus é maravilhoso... Depois, e nem precisa de descrição, «She's in parties», com a guitarra a parecer que vem dos confins do mundo para nos atormentar. Ah, o Padrinho do Gótico!...
No segundo regresso, Peter Murphy deu à «geração RFM» o que ela tanto queria, «Cuts you up», terminando o concerto de quase duas horas num resgito extremamente intimista, como é o de «All we ever wanted was everything».
Que dizer... pode voltar que nós cá estaremos, nunca é de mais quando o que se vê e ouve é bom. Murphy deixou o anúncio de que vem aí álbum novo, razão para nova visita já em 2009. Cá estaremos, Peter!

Alinhamento:

Cool Cool Breeze
The Line Between the Devil's Teeth (And That Which Cannot Be Repeat)
Disappearing
Burning from the inside
Gliding like the whale
Hurt (NIN)
Marlene Dietrich's favourite poem
Time has got nothing to do with it
I'll fall with your knife
(*)
Black stone heart
Huvvola
Idle flow

Strange kind of love/Bela Lugosi's dead
She’s in parties

Cuts you up
All we ever wanted was everything


(*) Tema que não identifiquei

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Uma diva chamada Róisín


Sem a energia electrizante que já demonstrou noutras passagens por palcos nacionais, Róisín Murphy estreou-se no Porto com um concerto intenso, mas um pouco mais reservado do que é habitual nela.
Mesmo assim, no que foi o regresso do Clubbing à Casa da Música, pós intervalo de Verão, a ex-vocalista dos Moloko foi igual a si própria, ou seja, exuberante, bela, glamourosa... brilhante.
As constantes mudanças de indumentária - é certo que se resumem a casacos, chapéus e óculos - emprestam um brilho ao concerto pouco visto, principalemnte pelo à-vontade com que Róisín o faz, mesmo ali ao lado ou mesmo em pleno palco.
Os casacos vão do mais simples ao mais espampanante, com Róisín Murphy a incorporar diversas personagens, à medida que desfia temas dos seus dois trabalhos a solo, «Ruby Blue» e «Overpowered».
Foi precisamente com o tema que dá nome ao segundo álbum que Róisín abriu o concerto. Com o público já rendido em «You know me», a ex-voz dos Moloko imprimiu ritmo à noite, para depois "mudar o palco", concentrando-se com os músicos no lado esquerdo do mesmo, para interpretar uma série de temas mais intimistas.
A maviosa voz de Róisin sobressai, enquanto na plateia se sente a pulsão de quem quer mais energia a sair do palco.
É com «Movie star remix» que a festa regressa à Sala 2 da CdM, enquanto pelas outras áreas a festa já contagiou as centenas de pessoas que por ali se encontravam.
Róisín Murphy é uma gata e sabe-o, meneando-se como só ela em palco, acompanhada pelo par de cantoras que formam o coro. Se o termo diva tem personificação, Róisín Murphy é das cantoras que o consegue. Mantendo a plateia em alta e conseguindo a espaços tranformar a plateia numa pista de dança, a cantora entrega-se totalmente em palco, protagonizando um belo espectáculo de se ver e ouvir.
Com «Dr. Zee» o concerto ganha novo fôlego, seguindo uma série de canções festivas, com o público a demonstrar toda a devoção à artista.
A fechar o Clubbing de Outubro, no Bar 1, Khan of Finland, que tinha feito a primeira parte (pouco entusiasmante, diga-se) na Sala 2, mostrou mais apetência para conseguir animar as hostes nos gira-discos. Aí, conseguiu dar bom seguimento ao que tinha acabado de acontecer lá em cima, por conta de Róisín Murphy.
Um obrigado especial ao Ricardo Meireles pela foto.

Alinhamento:
Overpowered
You know me
Checking up
Through time
Tell everybody
It's nothing
Movie star remix
Dear Miami
Day for night
Primitive
Dr. Zee
I can´t help myself
Pretty bridges
Let me know
Ruby blue
The ID
Slave to love (Roxy Music)
Ramalama