Noite de alma cheia a que ontem se viveu no Minho. Quando estendi o meu esqueleto sobre a cama era a minha alma que se regozijava pelos momentos que, juntamente com o meu cansado corpo, tinha experienciado horas antes.
No Fórum São Bento Menni, em Barcelos, os Mão Morta começaram a soprar os Ventos Animais que irão varrer Portugal nos próximos tempos. Maldoror, essa sinistra figura do maligno que os Mão Morta resgataram do confins do tempo, não foi suficiente para roubar ao colectivo bracarense a alma rock.
Rebuscando o baú, Adolfo Luxúria Canibal e seus pares presentearam o público, que praticamente lotou a sala onde decorre mais um Subscuta, com diversas pérolas do seu repertório, numa vertigem alucinante a que as suas criações sempre nos proporcionaram.
Num concerto tipo masoquista, o público permaneceu sentado, enquanto ouvia coisas como «E se depois...», «Gnoma», «Amesterdão», «Lisboa», ou "o agora incontornável", como disse Adolfo, «Budapeste». A meio levantei-me, pois é impossível assistir a um concerto de Mão Morta... sentado.
Com a frase "75 anos aos serviço da saúde mental» a dominar o palco, ouvia-se "Tu disseste 'eu também já tive medo. muito medo. recusava-me a abrir a janela, a transpôr o limiar da porta'" (in «Tu Disseste»). A loucura pairava no ar, mas niguém ali estava doido.
Adolfo Luxúria Canibal mostrou estar em grande forma, depois da extraordinária performance em «Maldoror». Dançando como só ele (dançando????), a voz rouca e cavernosa dos Mão Morta precisava apenas de uma plateia agitada à sua frente e não sentada, para que a actuação tivesse chegado ao excelente. Mesmo assim, foi fantástico.
A maior parte dos presentes já tinha saudades de ver a banda em registo rock'n'roll, e os Mão Morta não desiludiram. Talvez um tema apenas para encore e o pessoal teria saído ainda mais satisfeito.
Musicalmente exímios, os Mão Morta estiveram ao seu melhor. Pena o público estar sentado, o que coartou a interacção entre plateia e palco. «Penso que penso» exige mosh à frente do palco... e não houve. Mesmo assim foi uma delícia ver no arranque da digressão «Ventos Animais» uns Mão Morta ao seu melhor...
Findo o concerto em Barcelos, dirigi-me às Taipas (Guimarães), mais concretamente ao Bar N101. Aí, era a vez dos Peixe : Avião tomarem conta do palco e desfiarem os temas do seu recente álbum de estreia «40:02».
Foi uma bela maneira de acabar a noite, pois a prestação deste quinteto sedeado em Braga (quem diria) foi extraordinária. André Covas, Luís Fernandes, Pedro Oliveira, Ronaldo Fonseca e Zé Figueiredo deram um concerto seguro e profissional, perante um N101 cheio.
A intensidade sonora da banda, em que a voz aguda e, por vezes, electronicamente trabalhada, enche a alma mais distraída, criando um ambiente fabuloso em torno do som debitado do palco.
Temas como «A espera e um arame», «Barro e lama em mão cheia», «Frio bafio», ou «Nortada» foram alguns dos que se ouviram em mais uma apresentação ao vivo de «40:02».
Alinhamento Mão Morta:
Ventos animais
Budapeste
As tetas da alienação
E se depois...
Arrastando o seu cadáver
Tu disseste
É um jogo
Gnoma
Em directo (para a televisão)
Penso que penso
Amesterdão
1º de Novembro
Bercelona
Quero morder-te as mãos
Vamos fugir
Lisboa
Cão da morte