terça-feira, 19 de maio de 2009

Little Annie brilhou na luz dos Larsen

Neste meu esforço de pôr a escrita em dia, recordo agora o concerto de Little Annie, juntamente com os Larsen, no Auditório de Serralves, no passado dia 13 de Maio, data tão simbólica para este Portugal religioso e conservador. Por isso, nada melhor do que assistir (felizmente, para mim) mais uma vez a um concerto de Little Annie, essa norte-americana conhecida mundialmente como diva punk do cabaret pós-moderno que também dá pelo nome de Annie Anxiety ou Annie Bandez. Pormenores...
A surpresa, para mim, foram mesmo os Larsen. Se de Little Annie já sabia com o que podia contar, o mesmo não posso dizer do quarteto italiano. Soberbo. A densidade melódico-sonora que criaram em Serralves foi, para além de mais, a cama perfeita para a interpretação da pequena, frágil e doce norte-americana.
A abertura do espectáculo ficou a cargo dos Larsen, que souberam criar a atmosfera ideal para a entrada em palco da titubeante de Little Annie, que abriu com «Lefrak city limits».
ambiente intimista espalhava-se pelo espaço e do alto dos seus expressivos saltos de agulha a diva recordava... "When I was seventeen". «Very good year» fixava Little Annie em palco, que cantou ainda mais um tema.
A fechar, os italianos intrepretaram mais quatro temas sem a norte-americana, o último dos quais a abrir o encore, «Radial».
A encerrar o concerto, Little Annie e Larsen ofereceram «If Cain were able», num momento de enoirme empatia entre o palco e a plateia.
Foi bom rever em palco Little Annie, numa versão diferente - da outra vez foi apenas acompanhada ao piano -, e enriquecida pelas paisagens sosnoras dos Larsen.

A rara beleza de Antony Hegarty

Foi um Antony Hegarty extraordinariamente bem-disposto e conversador o que ontem esteve em palco no Coliseu do Porto. O mote era a apresentação do seu último trabalho discográfico, «The Crying Light», pelo que se fez acompanhar, como habitualmente, pelos The Johnsons.
A sala da Invicta abarrotava pelas costuras de um público já rendido mesmo antes de se ouvirem os primeiros acordes. O desenrolar do concerto acabou por mostrar um Antony também ele rendido ao público portuense - ou português, pois este foi o terceiro concerto que deu em quatro dias entre nós -, parando amiúde a actuação para, simplesmente conversar com o público. Apaixonou-se mesmo, quando num momento de silêncio de um dos temas alguém gritou do Balcão. "Eu estava a apaixonar-me [recordava a letra da canção] e apaixonei-me por vocês", explicou no final da canção.
Os gritos de agrado lançados da plateia eram frequentes e isso, via-se, mexia com o músico, que permaneceu sempre sentado ao piano.
Do novo trabalho ouviram-se a maioria dos temas, como «Her eyes are underneath the ground», «Kiss My name», «The crying light», «Epelepsy is dancing»«Aeon», entre outros, mas igualmente algumas pérolas dos álbuns anteriores, «I Am A Bird Now», como «Fistful of love», «Hope there's someone» e «Another world», entre outras.
O público adorava os momentos musicais, os momentos de descontracção de Antony em palco, que perguntava como estava a cidade e dissertava sobre obrigações cívicas, actrescentando ainda depositar muita esperança em Obama, apesar deste estar sobre grande pressão e ter um mundo em falência nas mãos... Mesmo assim, Antony ainda fez um reapro ao presidente dos Estados Unidos: "Fiquei muito triste quando ele na semana passada decidiu não revelar as fotos da tortura", afirmou.
Antes de «Hope mountain», que conta a história do regresso de Jesus Cristo em versão feminina, Antony explicou que abandonou a igreja católica por não se sentir aceite nas suas opções de vida...
Mas a descontracção de Antony era tal que não só se deu ao improviso, como repetiu várias vezes o final de uma das canções, tal era o gozo que o mesmo lhe estava a dar.
O espectáculo começou com uma bailarina sozinha em palco, fazendo-se passar por um pássaro e por um cavalo, num dos momentos visualmente mais belos... Porque depois a vocalização de Antony e a cama sonora que os The Johnsons lhe oferecem são momentos de constante e rara beleza. A maviosidade da voz e a composição doce, delicada e meiga das canções remetem para um universo deleitoso, onde o belo impera.
Um extraordinário concerto, em que (repito) o belo inundou um Coliseu do Porto, que se despediu do britânico com uma tremenda ovação de pé.

sábado, 16 de maio de 2009

Todos diferentes, todos iguais... de branco


Foi a curiosidade que me levou até ao Pavilhão Atlântico, no passado sábado, para participar na festa do ano - foi promovida como tal - em Portugal: Sensation - The Ocean of White.
O desafio, para mim, era grande pois a indumentária exigia a cor branca, algo quase impossível para o meu guarda-roupa. Para além disso, vestir integralmente de branco foi um verdadeiro desafio para mim, que habitual, natural e normalmente visto (integralmente) de negro.
Porém, a expectativa de marcar presença num evento que poderia rebuscar o conceito das antigas rave parties falou mais alto e, então, aventurei-me.
Para ser sincero, esta parte do conceito rave não existiu, a não ser pela quantidade de pessoas presentes e pelo espírito de que estavam todas embuídas. Mas uma rave para ser rave tem que ter na componente musical um dos seus pontos fortes e, na Sensation, isso é algo relegado para segundo plano. Pelo menos pelo que me deu observar e ouvir no Pavilhão Atlântico.
Se Mastik Soul esteve muito bem, contagiando as cerca de 15 mil almas presentes com beats fortes e apelativos à dança, já os demais deixaram um pouco a desejar. Excepção ainda ao norte-americano Felix Da Housecat, um verdadeiro senhor dos gira-discos e da house music.
De resto, musicalmente, aquilo mais pareceu um arraial de música de dança.
Música à parte, porque a Sensation é mais o resto do que propriamente o sonido, a festa foi um verdadeiro espectáculo. Logo à partida, o espaço estava decorado de forma excepcional, remetendo para o imaginário oceânico, com gigantescas medusas suspensas da cobertura do pavilhão, contando ainda com a exibição, em diversos momentos, de imagens digitais de animais marinhos, tais como tubarões e golfinhos, entre outros. Um autêntico e imenso oceano digital exibido em dois enormes ecrãs nos topos do pavilhão e ainda em torno da giratória cabina do deejay. Desta como que emergia uma enorme estrutura de forma molecular, como se fosse a origem de tudo aquilo que ali acontecia. Depois, muita cor, muita luz, raios laser desenhando o espaço vazio, pirotecnia e jactos de água criavam um ambiente fabuloso, congregando todos os presentes para a festa. E porque uma festa desta dimensão não vive apenas de música, luz e cor, foram muitas as performances nas duas passerelles que partiam da cabina prolongando-se pelo rinque do pavilhão. Aí, uma dúzia de bailarinas surgiram a fazer bolas de sabão, outras tantas a dançar sob os jactos de água, ao som da remistura de «Walkinhg on a dream», dos Empire Of The Sun, numa espécie de concurso miss t-shirt molhada, 10 performers em balões; mais uma dúzia de alforrecas humanas e homens voadores, entre muitas outras actuações, algumas das quais em plena pista de dança (leia-se, rinque).
Em resumo, para além da actuação dos disc-jockeys, o público pôde apreciar uma série de performances impressionantes pela qualidade e sincronização, o que emprestou um brilho e glamour fantásticos ao evento.
Estupendo é mesmo o efeito que produz toda aquela vasta massa humana vestida de branco. Todos diferentes, todos iguais... de branco. A verdade é que, apesar da cor única, a diversidade indumentária foi bem mais evidente do que acontece normalmente numa qualquer noite numa discoteca, club ou outro espaço, onde as pessoas acabam por se vestir todas de uma forma mais homógenea. Coisas de moda(s)... Perante a obrigatoriedade ebúrnea, as pessoas, principalmente elas, sentiram a necessidade de caprichar, até porque as mulheres gostam pouco de vestir umas iguais às outras. E se habitualmente a policromia ajuda, ali tinha que ser mesmo através do feitio. E havia por lá escolhas incríveis...
Valeu a pena, gostei do evento na globalidade, mas teria sido melhor se a componente musical tivesse sido mais arrojada. Esperemos que para o ano este aspecto seja melhorado, estando certo que esse talvez não seja o item que mais preocupa a organização. Mas devia. Aquela festa com uma componente sonora de melhor qualidade teria sido verdadeiramente de arromba.
Melhorar este aspecto é fulcral, até porque tive que comprar umas calças brancas que só deverei usar novamente na próxima edição da Sensation - The Ocean of White.

terça-feira, 12 de maio de 2009

segunda-feira, 11 de maio de 2009


São fases. Acho que vou voltar a aproveitar este pequeno caderno de apontamentos. Sou a prova cabal de que a memória humana é falível. A minha particularmente falível, pelo que escrever é o melhor remédio.
A falta de escrita não significou falta de vivências, por isso vou tentar recuperá-las... Assim, a memória me ajude! Nestes últimos tempos houve experiências fantásticas e seminais, ou(tras) não!
Vou experimentar o flashback, talvez através de um estado (meio) entropecido, mas, por isso, extremamente criterioso no que a memórias diz respeito.
Momentos que foram do imenso branco Sensation - The ocean of white, ao negro luciferino de Kenneth Anger, versão Technicolor Skull, com Brian Butler.