domingo, 4 de maio de 2014

Quero ser eternamente o menino da mãezinha!...

Quero ser eternamente o menino da mãezinha. Ter colo, pelo menos, até aos 70, como aquele vetusto senhor que vivia num Lar na encosta da Serra da Estrela… juntamente com a sua mãe de 100 anos.
Quero ser eternamente criança e ter colo até morrer… Colo de mãe, porque mais nenhum outro se lhe equipara. Colos há muitos, mas nenhum como o da mãe. Um colo que começa por ser interior e onde a mãe, por entre toda a fragilidade da gestação, nos confere a maior segurança e conforto possível a um ser humano. Um colo que nos permite nascer, crescer, desenvolver e tocar o inimaginável, porque uma vez cá fora, diante do Mundo, o céu é o limite.
E mãe que é mãe é mãe que nos ama incondicionalmente como mais nenhuma mulher na face da terra e entre universos por descobrir, a única que sabemos nos ser fiel até ao sacrifício extremo, a morte mesmo, e que nos dá ao longo da vida não só um colo macio e confortável, seguro e (o mais) estável (possível), mas também um enorme e quase impenetrável guarda-chuva, qual escudo contra todas e quaisquer atrocidades, ou simples dificuldades, da vida.
Ter uma mãe é ter uma vida, isto sem esquecer o pai, elemento fulcral em todo o processo, mas que hoje fica com o papel secundário na história aqui contada.
Porém, e isto é muito, muito importante, mãe para ser mãe tem que ter filho(s) que também a ame incondicionalmente e reconheça o seu feito extraordinário.

Por isso, mãe Natália, tu és MÃE!...

Ass: Pedro Vasco Oliveira

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Evolua-se, então!

(Artigo de opinião escrito e publicado a 28 de Abril de 2004, em O Primeiro de Janeiro, evocando os 30 anos da Revolução de 25 de Abril de 1974 e mais uma celebração do 1.º de Maio)


A propósito do dia 1 de Maio, há dias um colega, um pouco mais novo do que eu, dizia-me que esta data, tal qual a da Revolução de Abril, tende inexoravelmente a deixar de ser evocada e a deixar de fazer sentido.
É, sem dúvida, sintomático da realidade que perpassa os nossos dias e os nossos jovens… Imagino o que será nos ainda mais jovens!
Reconheço que o fulgor idealista que se viveu no pós-Revolução não possa hoje ser o mesmo e que ainda será muito menor quando as gerações que consciente e activamente viveram e fizeram esses dias desaparecerem. É o mesmo que se passa com o 5 de Outubro, o 1 de Dezembro e tantas outras datas que os anos e os séculos apagaram. Se repararmos, nem as datas religiosas resistiram à erosão do tempo, pois actualmente o Natal, a Páscoa e até o 13 de Maio (tão português!) não passam de manifestações pagãs, onde o capitalismo comercial se instalou, qual vírus letal em corpo indefeso e desprevenido.
Mas recuso submeter-me à ideia de que, só porque os anos passam, as memórias se esvaem e os ideais morrem.
Por falar em ideais, sempre achei que o que faltou aos da minha criação foi um ideal pelo qual lutar. Gerações posteriores à minha encontraram no Ensino a sua luta e o seu argumento para darem largas à rebeldia própria da juventude e que, quer se goste quer não, faz a coisa andar para a frente. As anteriores à minha tinham a ditadura para combater. E diga-se, que propósito tão nobre… Lutar pela dignidade humana, pelo respeito e pela liberdade…
Talvez por ter tido um contacto tão próximo com pessoas que sentiram na pele a falta de liberdade dê tão grande valor ao que foi o 25 de Abril e ao que é a celebração do Primeiro de Maio.
É tão só um dia dedicado a esse ser, que também sou, que faz da força do seu trabalho (mental e/ou física) o seu sustento e dos seus, o motor do desenvolvimento de um País, a base de uma sociedade que deveria tratar por igual todos os seus elementos. É tão só um dia como o da Mãe, ou do Pai, que evocam as pessoas mais importantes da vida de todos e de cada um, ou não tivessem sido eles que nos conceberam.
Por isso, em tempo de ataque cerrado aos direitos do trabalhador, exulte-se e celebre-se as conquistas conseguidas em prol dos mais desfavorecidos, evolua-se para que não seja preciso sentir-lhes a falta (novamente) e ser necessário fazer-se novas revoluções.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

ESTA MERDA É TODA MINHA!...

Sou um hedonista. E o ano de 2013 mostrou-me que é assim que sou feliz. Sempre fui um hedonista, em que o amanhã e mesmo o além de amanhã (como se diz na minha terra) pouco importam, ou pelo menos importam muito menos do que o hoje e o agora.
Sou de uma geração sem causas, sem grandes ideais pelos quais lutar. Uma geração que viveu a balbúrdia da transição da ditadura para a democracia, a abertura do País às duas faces da moeda que o Mundo nos podia oferecer. É a vida!... Por isso, desfrutar o dia-a-dia sempre me pareceu o mais inteligente. Não olhar para a vida como um tempo de sobrevivência, mas como momentos de vivência, de experiência e, muito importante, de felicidade!...
Confirmar que sou um filho do hedonismo é o primeiro pensamento que me surge ao olhar para o defunto ano de 2013, em que a minha vida, como todas as vidas e como em todos os anos, sofreu várias vicissitudes. Mas também o que é a vida sem vicissitudes, idiossincrasias e coisas do género?
Há uma natural tendência para sobrevalorizar os maus momentos e ficar-se apenas pela deliciosa nostalgia dos bons…
Por momentos, em 2013, vi-me paraplégico, capaz apenas de me movimentar através de uma cadeira de rodas, uma imagem de futuro angustiante e muito nebulosa. E, talvez por isso, nunca valorizei muito, talvez devidamente, aquilo por que estava a passar. Ou melhor, acho que valorizei o que tinha que valorizar. E
agora passados uns quantos meses, não tenho dúvidas de que foi a melhor opção. Felizmente o mal passou, a normalidade retornou e agradeço à angústia ter-me demovido de sofrer por antecipação, o que afinal não tive ou não estou para já efectivamente a ter que sofrer. Correu bem!...
O hedonismo paga-se caro, dizem, mas que fazer… O que não nos mata fortalece-nos e o que vivemos é sempre grandioso, temos apenas que criar a nossa escala. Depois é algo que fica dentro de nós. Por vezes no corpinho, cá tenho as minhas «cicatrizes» na medula, outras, e essas sempre e bem mais valiosas, as da alma.
Ao olhar para 2013 apraz-me muito mais pensar que são, de facto, os sonhos que nos fazem viver, porque sem eles simplesmente sobrevivemos. O pior dos cenários que a doença me podia trazer é em muito suplantado pela alegria de ter voltado a pisar um palco, oferecer a minha música, mais as minhas palavras, e a minha interpretação. Para além de foi um ano em que projectei um futuro musical que estou confiante 2014 vai acolher com agrado. Aguardem-nos, fuckers!...
A doença devia levar-te a mudar de vida, dizem-me! O médico, salvaguardando não ser “muito dessas coisas”, disse-me no momento da alta
que o episódio que vivi me “terá tornado mais maduro”. A minha moça, amor da minha vida, acha que deve tornar-me “mais responsável e maduro”. Eu acho que o sou, atendendo a todas as circunstâncias, responsabilidades e anos que levo pendurado na árvore da vida!
Se não fosse como sou e se a doença tivesse dado para o torto, não poderia usufruir no futuro, não teria usufruído no passado e o presente seria um enorme um ponto de interrogação!... Não é que a vida não o seja sempre, mas sê-lo-ia numa cadeira de rodas, o que, pela pouca experiência que tive, torna tudo mais complicado… ainda!
O defunto ano de 2013 serviu-me, essencialmente, para confirmar a fragilidade humana em toda a sua plenitude. Vi e senti como tudo isto é débil, como um simples sopro da própria vida é capaz de desfazer uma pessoa. E vi e senti como o sonho é mais forte e nos leva a patamares superiores em cada dia que estamos vivos e, de preferência, saudáveis!...
Quero e recordo 2013 como algo que me deve fazer continuar a usufruir da vida, porque de hoje para amanhã sabe-se lá em que estado estamos.
O meu parceiro de quarto no hospital estava constantemente a suspirar: “Ao
que nós chegámos…”!
Não me importo de com 88 anos, como ele, suspirar o mesmo, mas quero fazê-lo de alma cheia, com um espírito ainda voraz e uma vontade imensa de enganar a morte e a desgraça e continuar a abraçar a vida… agitada, confusa, brilhante, por vezes ofuscante, mas sempre bela.
Ah, e obviamente, 2013 trouxe-me a confirmação plena de algo de que nunca desconfiei: tenho, de facto, muitos e bons amigos! Também, até
agora é para o que tenho vivido, para fazer amigos e esses são o melhor que
a vida tem e nos dá. Porque o resto, tipo filhos e assim, somos nós que os arranjamos!... Quer dizer, por vezes também no-los arranjam, mas faz parte da vida!
Isto é apenas uma breve consideração sobre 365 dias que já passaram, sem qualquer tipo de nostalgia ou sentimento antagónico. Foi mais um ano que passou e o que espero do novo ano é poder continuar a desfrutar de todos e cada dia que a vida me proporciona sempre que acordo de manhã, de preferência… tarde!...


E agora, roda no ar e à voz de siga, siga. SIGA!...