quinta-feira, 24 de abril de 2014

Evolua-se, então!

(Artigo de opinião escrito e publicado a 28 de Abril de 2004, em O Primeiro de Janeiro, evocando os 30 anos da Revolução de 25 de Abril de 1974 e mais uma celebração do 1.º de Maio)


A propósito do dia 1 de Maio, há dias um colega, um pouco mais novo do que eu, dizia-me que esta data, tal qual a da Revolução de Abril, tende inexoravelmente a deixar de ser evocada e a deixar de fazer sentido.
É, sem dúvida, sintomático da realidade que perpassa os nossos dias e os nossos jovens… Imagino o que será nos ainda mais jovens!
Reconheço que o fulgor idealista que se viveu no pós-Revolução não possa hoje ser o mesmo e que ainda será muito menor quando as gerações que consciente e activamente viveram e fizeram esses dias desaparecerem. É o mesmo que se passa com o 5 de Outubro, o 1 de Dezembro e tantas outras datas que os anos e os séculos apagaram. Se repararmos, nem as datas religiosas resistiram à erosão do tempo, pois actualmente o Natal, a Páscoa e até o 13 de Maio (tão português!) não passam de manifestações pagãs, onde o capitalismo comercial se instalou, qual vírus letal em corpo indefeso e desprevenido.
Mas recuso submeter-me à ideia de que, só porque os anos passam, as memórias se esvaem e os ideais morrem.
Por falar em ideais, sempre achei que o que faltou aos da minha criação foi um ideal pelo qual lutar. Gerações posteriores à minha encontraram no Ensino a sua luta e o seu argumento para darem largas à rebeldia própria da juventude e que, quer se goste quer não, faz a coisa andar para a frente. As anteriores à minha tinham a ditadura para combater. E diga-se, que propósito tão nobre… Lutar pela dignidade humana, pelo respeito e pela liberdade…
Talvez por ter tido um contacto tão próximo com pessoas que sentiram na pele a falta de liberdade dê tão grande valor ao que foi o 25 de Abril e ao que é a celebração do Primeiro de Maio.
É tão só um dia dedicado a esse ser, que também sou, que faz da força do seu trabalho (mental e/ou física) o seu sustento e dos seus, o motor do desenvolvimento de um País, a base de uma sociedade que deveria tratar por igual todos os seus elementos. É tão só um dia como o da Mãe, ou do Pai, que evocam as pessoas mais importantes da vida de todos e de cada um, ou não tivessem sido eles que nos conceberam.
Por isso, em tempo de ataque cerrado aos direitos do trabalhador, exulte-se e celebre-se as conquistas conseguidas em prol dos mais desfavorecidos, evolua-se para que não seja preciso sentir-lhes a falta (novamente) e ser necessário fazer-se novas revoluções.